Por Dayana Soares
No coração da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Acre, uma professora tem se destacado por sua dedicação e capacidade de transformar desafios pessoais em inspiração para seus alunos.
Monaira Cavalcante da Silva, que há 10 anos atua como docente e há 8 trabalha na EJA, se destaca não só pelo conhecimento que transmite, mas pela forma como cria conexões profundas com seus alunos.
Para muitos, ela é uma verdadeira “professora extraordinária”, uma metáfora que nos remete ao personagem Auggie, do famoso livro O Extraordinário.
Assim como Auggie, que enfrenta as dificuldades de ser diferente e busca aceitação em sua comunidade escolar, Monaira também enfrenta desafios. Diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) na vida adulta e mãe solo de um menino com autismo, ela sabe o que significa lutar para ser compreendida em um mundo que nem sempre acolhe as diferenças.
No entanto, assim como o protagonista de O Extraordinário, Monaira encontrou na escola um refúgio, onde suas lutas se transformam em oportunidades de crescimento e aprendizado – tanto para ela quanto para seus alunos.
Uma jornada de superação e empatia
Monaira compartilha que seu diagnóstico de TDAH trouxe um misto de alívio e dificuldade. “Eu sofri muito na infância e até na universidade por não conseguir me concentrar e me sentir sempre diferente. O diagnóstico foi libertador, porque me ajudou a entender o porquê das minhas dificuldades”, relata.
Apesar disso, ela se destaca pelo hiperfoco em atividades que ama, uma dela é o ensino na EJA. “Quando estou com os alunos, me dedico ao máximo. É na sala de aula que eu realmente me sinto realizada”, diz.
Além disso, Monaira enfrenta a difícil missão de criar sozinha seu filho, diagnosticado com autismo aos dois anos de idade. O processo de aceitação foi doloroso, já que parte de sua família não compreendia o diagnóstico.
Foi na EJA que ela encontrou um lugar onde, por algumas horas, podia esquecer os desafios do dia a dia e se concentrar em algo que ama. “Ir para a escola é uma terapia. Quando estou lá, esqueço meus problemas e sou apenas a professora que ama seus alunos”, explica.
EJA transformando realidades no Acre
Monaira é parte de uma rede de 528 professores que, em 2024, estão transformando vidas na EJA da rede estadual gerida pela Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Acre.
Com cerca de 15.000 alunos matriculados em 114 escolas, a modalidade oferece no estado uma segunda chance para jovens, adultos e idosos que, por diferentes razões, não puderam concluir seus estudos na idade recomendada.
Os números da EJA refletem a diversidade e o impacto social dessa modalidade de ensino: 1.703 alunos nos anos iniciais do ensino fundamental, 5.999 nos anos finais e 7.260 no ensino médio.
A importância da EJA vai além da educação formal. Ela oferece qualificação profissional em parceria com o Instituto Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (Ieptec), com cursos voltados para as demandas do mercado de trabalho.
Em 2024, 25 turmas do ensino fundamental estão participando de cursos como Confeiteiro e Operador de Supermercado, enquanto 36 turmas do ensino médio estão aprendendo sobre assistente administrativo e mecânica de climatização.
Além disso, os alunos que frequentam esses cursos profissionalizantes e tem 75% ou mais de presença, garantem uma assistência educacional no valor R$2,00 por hora aula.
Outro diferencial da EJA acreana é o Projeto de Vida, um programa que, em parceria com a empresa MindLab, fornece aos alunos mais de 3,2 mil cursos livres gratuitos na plataforma Eduk.
Laços além da sala de aula
Se há algo que diferencia Monaira é sua capacidade de criar laços com seus alunos. Para ela, os alunos não são apenas estudantes – muitos se tornam amigos. “Eu gosto de estar com eles, de conversar sobre a vida, sobre maternidade, sobre trabalho. Eles me veem como alguém em quem podem confiar, e essa relação vai além das aulas”, conta.
Assim como Auggie encontra nos amigos e na escola um apoio que o ajuda a superar seus desafios, Monaira transforma a sala de aula em um espaço de acolhimento e compreensão.
A professora sabe como é importante ser flexível com seus alunos, muitos dos quais enfrentam jornadas duplas ou triplas, dividindo-se entre o trabalho, a família e a escola.
Ela entende as dificuldades e adapta seu método de ensino para garantir que cada um tenha a oportunidade de aprender no seu ritmo. “A EJA é um lugar de acolhimento, onde os alunos sabem que, apesar das dificuldades, têm alguém que acredita neles”, afirma.
Uma Professora Extraordinária
Assim como Auggie, Monaira ensina uma lição valiosa sobre empatia e superação. O que a torna extraordinária não são os desafios que enfrenta, mas a maneira como transforma esses desafios em oportunidades de crescimento para si mesma e para seus alunos.
Em um ambiente de aceitação e compreensão, Monaira não apenas ensina geografia, história ou filosofia – ela ensina seus alunos a acreditar que sempre há uma nova chance, um novo começo.
No Dia dos Professores, histórias como a de Monaira Cavalcante nos lembram que a educação vai muito além do conteúdo acadêmico: é sobre criar espaços de acolhimento, entender as particularidades de cada indivíduo e dar-lhes as ferramentas para transformar suas próprias vidas.
A educadora não só forma alunos, mas cidadãos capazes de sonhar, lutar e alcançar seus objetivos.
Monaira Cavalcante é, sem dúvida, uma professora extraordinária – uma profissional que, com empatia e dedicação, transforma desafios pessoais em inspiração, e oferece a cada um de seus alunos a chance de serem extraordinários também.
Fonte agencia.ac.gov.br