Cruzeiro do Sul, AC, 24 de novembro de 2024 00:02

Sem abastecimento, comunidade bebe água da chuva no interior do AC

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Onze famílias vivem a 500 metros do lixão em Cruzeiro do Sul.
‘Estamos como cachorro, sem água e sem roupa limpa’, diz moradora.

Menino toma água da chuva armazenada em baldes em frente às casas (Foto: Taís Nascimento/G1)
Menino toma água da chuva armazenada em baldes em frente às casas (Foto: Taís Nascimento/G1)

Onze famílias da comunidade Centrinho, no bairro São José em Cruzeiro do Sul, distante 648 quilômetros de Rio Branco, vivem em condições precárias de saúde e saneamento básico. Eles moravam nos bairros Remanso e Telégrafo, onde agora será construído um canal de esgoto. Então, a prefeitura cedeu as terras que ficam a 500 metros do lixão da cidade. De acordo com as famílias, antes da mudança, a prefeitura teria prometido um conjunto com infraestrutura, saneamento básico e água encanada. Porém, a energia só chegou às casas há quatro meses e, sem água, os moradores precisam armazenar água da chuva para ser usada no dia a dia.

Procurada pelo G1, a prefeitura, através de sua assessoria de imprensa, informou que essas pessoas viviam em situação irregular por não ter o documento de comprovação das terras. Ressaltou ainda que, devido ao governo do estado não poder dar a indenização aos moradores, a prefeitura cedeu às terras em que eles se encontram agora. Até esta sexta-feira (27), a prefeitura se comprometeu a dar um posicionamento sobre o abastecimento de água na comunidade.

Ediane Martins, de 29 anos, mora no local há um e diz que a água da chuva é usada para beber, cozinhar e tomar banho. “Como não tem água encanada, a gente tem que beber da chuva ou, quando não chove, temos que pegar na vizinha lá de cima”, desabafa.

A costureira Maria Luzinete, de 37 anos, conta que quando houve a transferência, a promessa é que haveria água, energia e transporte. Segundo ela, somente a eletricidade foi estabelecida, depois de quatro meses após a mudança. Como improviso, os moradores fizeram uma cacimba, onde pegavam a água, porém contam que por ser uma área muito próxima ao lixão, a água das cacimbas são muito sujas.

“Viemos para cá com a esperança de ter água, energia e transporte. Eles disseram que iam ter tudo isso, mas agora, depois de quatro meses, foi que tivemos energia e estamos sem transporte e água. Os moradores fizeram uma cacimba, mas é suja porque aqui é terra de lixão, mas mesmo assim ainda tem gente que toma a água de lá,” destaca.

Maria conta que viveu dez anos no antigo bairro e depois da mudança tem chorado muitas vezes. “Eu choro porque lá a gente tinha tudo e aqui não. Estamos como cachorro, sem água, sem roupa, porque é tudo sujo. A gente toma água da chuva”.

Moradores usam baldes para armazenar água da chuva para usar no dia a dia (Foto: Taís Nascimento/G1)
Moradores usam baldes para armazenar água da chuva para usar no dia a dia (Foto: Taís Nascimento/G1)

O morador, Lidiomar Souza Silva, 37 anos, fala que vive a 500 metros do lixão e quando os caminhões da coleta de lixo passam, acabam derramando um líquido sujo que entra nas casas. “Os caminhões de lixo, quando passam, derramam água mal cheirosa na estrada e escorre para cá. No final da tarde sobe o mau cheiro”, explica.

Ele conta ainda que esperava mínimas condições de moradia, principalmente, acesso à água. “Era para terem colocado a gente com um asfalto. E sem água não tem condições. Se a prefeitura não resolver nosso problema, vamos fechar a estrada”.

Caixas d'água são colocadas em frente às casas do conjunto (Foto: Taís Nascimento/G1)
Caixas d’água são colocadas em frente às casas do conjunto (Foto: Taís Nascimento/G1)