Por Gledisson Albano
Rodrigues Alves, uma cidade situada a 626 km de Rio Branco, no norte do Acre, foi o palco da primeira fase de um importante projeto científico internacional. O Projeto de Perfuração Transamazônica (Trans-Amazon Drilling Project, ou TADP), após oito meses de trabalho intensivo, concluiu a primeira etapa de um programa que visa estudar a origem e a evolução da Amazônia e do clima da América do Sul tropical.
As operações de sondagem realizadas em Rodrigues Alves resultaram na coleta de 870 metros de testemunhos contínuos a 923 metros de profundidade, um feito considerado um marco na ciência brasileira. Esses testemunhos são amostras cilíndricas de sedimentos e rochas sedimentares da era geológica do Cenozoico, representando os últimos 23 milhões de anos.
“Isso documenta as últimas dezenas de milhões de anos de história da Amazônia, que é o período mais importante, pois foi quando se originou a Amazônia megabiodiversa como ela é hoje”, diz André Sawakuchi, do Instituto de Geociências da USP, e um dos coordenadores da iniciativa.
A próxima etapa do TADP ocorrerá no município de Bagre, na Ilha do Marajó, no Pará. A perfuração no Pará está prevista para começar neste mês. Espera-se atingir até 1.250 m de profundidade no subsolo em um período estimado de três meses.
“Outra diferença é que o Marajó já está próximo à foz do rio Amazonas e recebe sedimentos de rios que drenam não apenas a Amazônia, mas também o cerrado. Portanto, há expectativa de reconstituirmos também a história do cerrado e do clima da região Centro-Oeste”, diz Sawakuchi.
O investimento necessário para a sondagem é de cerca de US$ 3,9 milhões (R$ 19,7 milhões). Desse total, US$ 1,1 milhão é financiado pelo International Continental Drilling Program (ICDP), US$ 1,1 milhão pela National Science Foundation (NSF), dos Estados Unidos, US$ 700 mil pelo Smithsonian Tropical Research Institute (STRI), com sede no Panamá, e US$ 1 milhão pela Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que também contribuiu com mais R$ 1 milhão em bolsas de pesquisa e outros recursos e despesas do projeto.
Para evitar a disseminação de desinformação e pensando no impacto do projeto na comunidade, o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Patrimônio Geológico e Geoturismo do Instituto de Geociências da USP, o GeoHereditas, realizará ações educativas no local.