Por Samuel Bryan
Além do coração pulsante de Rio Branco, entre o fervor urbano e a serenidade ancestral, o primeiro Festival Huwã Karu Yuxibu emerge como um grande evento da cultura indígena, um testemunho tangível do compromisso incansável do Acre com a preservação e o fortalecimento das tradições dos seus povos originários, que começou dia 22 e vai até 31 de março.
Sob o abraço acolhedor do Centro Huwã Karu Yuxibu, localizado no quilômetro 36 da Estrada Transacreana, o governador Gladson Cameli se uniu neste sábado, 23, aos líderes indígenas e entusiastas da cultura para celebrar uma jornada histórica, marcada pelo eco das vozes dos Huni Kuin, um povo que tece sua história nas florestas densas e nos rios sinuosos da Amazônia.
O cacique Mapu Huni Kuin, embaixador de uma herança viva que transcende fronteiras, expressou sua gratidão pela aliança estabelecida com o governo estadual. Com sua voz ecoando além dos limites geográficos, Mapu não apenas celebrou a riqueza de sua cultura, mas também traçou pontes entre os mundos, unindo tradição e modernidade em uma dança harmoniosa, como exemplo a sua própria viagem para Los Angelas (EUA) em breve, para apresentar parte de seus quatro álbuns musicais a um público internacional, isso logo após seu sucesso na participação na novela Terra e Paixão.
“Já estamos há cinco anos trabalhando nesta terra. E nosso foco principal é poder resgatar as famílias que estão em contexto urbano e estão perdendo suas raízes. Queremos fazê-las voltar a viver a tradição, devolver o que é delas. Sabemos que na cidade, muitas vezes, elas não têm muitas oportunidades. Então, vejo um futuro onde os jovens da cidade serão vistos além de universitários, espaço que já temos conquistado, mas como parte integrante da nossa cultura, não mais em situação de vulnerabilidade social. Vejo nosso estado sendo representado de forma ainda mais positiva, com nosso povo mantendo suas tradições, sua cultura, suas práticas vivas e mostrando isso para o mundo”, declarou o cacique.
O Festival Huwã Karu Yuxibu não é apenas uma celebração, mas um altar erguido à resiliência e à sabedoria ancestral. Nele, os aromas exóticos da gastronomia Huni Kuin seduzem paladares curiosos, enquanto os sons hipnotizantes da música tradicional envolvem os presentes em um abraço sonoro, convidando-os a dançar.
No objetivo deste evento histórico, há um compromisso sagrado com a preservação das raízes, refletido não apenas nas palavras calorosas do governador, mas também nas ações concretas que ecoam em todo o estado do Acre. Por meio de iniciativas como o Centro Huwã Karu Yuxibu, o governo oferece apoio e uma janela para as almas curiosas que desejam mergulhar nas águas profundas da cultura Huni Kuin, oferecendo uma vivência que transcende o efêmero, uma experiência que deixa marcas indeléveis na alma.
“É mostrar o potencial dos nossos povos da floresta, assim como o potencial que o Acre possui. É isso que tenho sempre falado, reafirmado, tentado transmitir essa mensagem. Um governador não sabe de tudo. Quando fui eleito em 2018, busquei conhecer as tradições, a vida cultural de todos os povos. Ainda não conheço todas as aldeias, mas a ideia é tentar conhecer, se não todas, pelo menos a grande maioria. Hoje, tive uma verdadeira aula. O que percebo, o que sinto como mais importante, é a paz espiritual, a força da natureza, da floresta. Entre o céu e a terra, há muitas coisas que a ciência ainda não descobriu. Temos que proporcionar, ajudar a fortalecer as questões naturais, a medicina natural que aqui temos. Como governador, tenho que incentivar. Agora, como cidadão, que estou aqui também, posso dar testemunho: Cheguei aqui como um Gladson e, com certeza, estou saindo hoje como outro. Quando falarem da Amazônia, falarão também do Acre, o Acre será uma referência. E isso depende de quem? Depende de todos nós, unidos”, disse o governador.
Para o mundo
Mas este festival vai além das fronteiras físicas. Em um mundo cada vez mais conectado, suas raízes se estendem para além das margens do Rio Acre, alcançando terras distantes por meio das ondas digitais. Com transmissão online para 17 países, o Festival Huwã Karu Yuxibu se torna um embaixador cultural, compartilhando os tesouros escondidos da Amazônia com o mundo.
Neste espaço de celebração e reverência, o esporte também encontra seu lugar sagrado. Com o lançamento da Liga de Futebol Huni Kuin com dez times, o festival abraça o poder unificador do jogo, transformando campos em templos onde a diversidade é celebrada e as diferenças se dissipam diante da paixão compartilhada.
Participante do Festival, Flora Dutra não veio apenas conhecer a magia do povo Huni Kuin, mas levar o evento para a Indigenous League, um projeto que busca unir o futebol, o esporte, e trazer junto com isso um impacto social para as comunidades indígenas. Com uma equipe de entusiastas internacionais entre gregos, espanhóis e italianos presentes no Centro, o impacto que eles buscam trazer é além da Amazônia.
“Estamos começando a implementar isso agora, contando com o apoio do Mapu Huni Kuin, do Centro e também do Estado do Acre para dar continuidade a esse trabalho no futuro. Somos uma startup que atua em vários territórios da Amazônia e estamos trazendo a Indigenous League aqui. Este projeto terá um alcance global, com uma rede de transmissão internacional para mais de 170 países. Este é apenas o começo de um grande projeto”, conta Dutra.
Hoje e pelo futuro
Em meio a esse turbilhão de cultura e espiritualidade, emerge uma verdade inegável: a herança indígena é a essência da identidade acreana. Como afirmado pelo Secretário de Turismo, Marcelo Messias, este festival, ao trazer a cultura indígena para o contexto urbano, encurta as distâncias entre os corações, tecendo uma teia de conexão que une passado e presente, tradição e modernidade.
“Este festival é especial para nós, pois é o primeiro realizado aqui na área urbana de Rio Branco. Normalmente, recebemos críticas de que os festivais são muito distantes das pessoas que moram na capital. Portanto, estamos oferecendo agora à nossa população do Acre, principalmente da capital, um festival próximo da cidade. Mapu é uma liderança que tem levado nosso etnoturismo para o mundo inteiro, então esse apoio só enaltece o turismo, nossa cultura e economia”, reforçou
Os Huni Kuin, filhos da floresta, guardiões das tradições, encontram no governo do Acre um aliado dedicado. Com 23 festivais indígenas apoiados entre as várias etnias do território acreano, o estado não apenas celebra a diversidade cultural, mas também semeia os alicerces de um futuro onde as raízes são honradas e os frutos da união florescem.
Para a secretária dos Povos Indígenas, Francisca Arara: “É extremamente importante percebermos que temos importância onde quer que estejamos, como povos indígenas, seja em nossos territórios, em nossas terras indígenas, ou em nossas cidades. É fundamental que isso aconteça dentro de um planejamento, como estamos vendo aqui, com a autonomia deste espaço e o trabalho realizado pelo Mapu e toda a comunidade. O Estado entra para complementar todo esse esforço, porque temos uma política e uma tradição de respeito à cultura e aos povos indígenas. Aqui, vemos um exemplo desse trabalho, que abrange sistemas agroflorestais, espiritualidade, cultura e culinária. Isso é realmente inspirador”.
Enquanto o Festival Huwã Karu Yuxibu entra em seus dias de celebração, todo o Acre celebra a beleza da diferença e a riqueza de sua diversidade.