Uma noite de homenagem, com teatro lotado. Assim foi a cerimônia da entrega da Comenda Volta da Empreza feita pela prefeita Socorro Neri à Raimunda Bezerra, ex padre Manoel Pacifico e Abrahim Farhat – o Lhé, no Teatro Hélio Melo, na noite desta sexta-feira,28.
A prefeita ressaltou a importância dos três na formação social e política da população da capital. “Essa é uma noite de emoção. Para mim é uma honra poder, em nome o Município de Rio Branco, reconhecer a luta, abnegação e trabalho dessas três pessoas que fizeram e fazem a diferença na nossa sociedade. Raimunda Bezerra, Manoel Pacífico e Abrahim Farhat, o Lhé, deixam um legado que deverá ser apropriado por pessoas, que como eles, têm atuação cotidiana na construção de uma sociedade mais justa”, citou.
A Comenda Volta da Empreza é a mais alta honraria entregue pelo Município, sendo o nome, uma referência à primeira denominação dada à cidade de Rio Branco no período de sua transição de seringal a povoado.
Por meio de vídeos, a trajetória, os desafios, as lutas e conquistas de Raimunda Bezerra, Abrahim Farhat e Manoel Pacifico – naquele momento, representado pelo padre Mássimo Lombardi, foram apresentadas aos convidados. Os aplausos ao fim da narrativa sobre os homenageados confirmaram a assertiva da prefeita Socorro Neri em escolher os três, que ampliaram o grau de politização dos moradores da floresta e da cidade. A partir dos anos 60, a atuação deles sempre foi no sentido de organizar e empoderar trabalhadores urbanos, rurais e índios, e acabar com o analfabetismo político que havia no Acre. Como ferramentas de resistência, a receita era a criação de cooperativas e sindicatos, a visão comunitária e a conscientização das pessoas.
Agradecendo pela Comenda, Raimunda Bezerra, dividiu a honraria com o Movimento Comunitário dos Bairros. “Me sinto lisonjeada em receber essa Comenda e a divido com todas as pessoas do Movimento Comunitário que seguem a luta pela justiça social”.
Abrahin Farhat, o Lhé, lembrou de nomes que o antecederam na busca de garantir cidadania às pessoas, como João Alfaiate e João Barbeiro, além do bispo Dom Giocondo. “Nós, por meio de organização e muita luta, conseguimos ocupar 30 bairros de Rio Branco, que hoje estão formados e consolidados, como o João Eduardo, graças à força popular. Viva a luta do povo brasileiro, viva a luta popular!”.
O Padre Mássimo Lombardi leu uma mensagem enviada pelo homenageado, o ex padre, Manoel Pacifico, que agradeceu a prefeita Socorro Neri por ter sido homenageado com a Comenda, junto com Raimunda Bezerra e Lhé, que nas décadas passadas foram seus companheiros na organização social e política de gerações de acreanos. “É uma grande honra ser destacado com Lhé e Raimunda Bezerra. A Prefeitura de Rio Branco também é importante parceira do Instituto Ecumênico, que criamos em 2007, para expandir a cultura da paz”.
Ao falar dos três homenageados, o jornalista Toinho Alves destacou que a busca pela igualdade e equidade une os três. “São pessoas comuns, que não têm fatos extraordinários a serem narrados, porque pessoas comuns atuam no cotidiano, no trabalho generoso e diário. Pessoas comuns têm grandes atos todos os dias, não acumulam riquezas, buscam para os outros e não para si. Repartem, compartilham e dividem. Esses três são pessoas comuns que não se encontram em palácios e preferiam a companhia do povo, de pessoas como João Eduardo, Bacurau e tantos outros. Essas três pessoas sempre repartiram e compartilharam e assim multiplicaram suas ideias”.
Estiveram presentes na solenidade de entrega da Comenda, o senador Jorge Viana, deputado federal Sibá Machado, vereadores Rodrigo Forneck e Eduardo Farias. A programação encerrou com show do cantor Sérgio Souto.
Comenda
A Comenda Volta da Empreza é constituída de três graus com distintos: O grau Fundador, que tem Neutel Newton Maia, como patrono, destina-se a reconhecer os que se destacaram por sua significativa contribuição nos campos social, cultural, econômico, humanitário, desportivo, ou outros de notável importância para a cidade, bairro ou comunidade.
O grau Comandante tem o Coronel José Plácido de Castro como patrono e é destinado a homenagear os que contribuíram, através de atos extraordinários com a comunidade, para a consolidação da cidade em nível regional.
O grau Chanceler, cujo patrono é José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, é a mais alta distinção da Ordem e homenageia aqueles que tenham reconhecidamente prestado relevantes serviços ao município, ou que, no exercício da sua atividade, tenham destacado o nome do município de Rio Branco nos cenários nacional ou internacional.
Os homenageados
Abrahim Farhat, o Lhé
Filho de sírio libaneses, Abrahim Farhat, o Lhé, hoje com 77 anos, nasceu em Rio Branco. Nos anos 60, no Colégio Acreano, iniciou a luta no movimento estudantil, que teve prosseguimento na antiga Ética. Depois passou a atuar na organização de movimentos sociais e sindicais. Sempre teve muita proximidade com a Igreja Católica, tendo sido grande amigo de Dom Giocondo, Dom Moacir e padres Pacifico, Nilo e Pedro Martinello, defensores da Teologia da libertação. Abrahim organizou e fundou várias cooperativas e sindicatos, como o das Lavadeiras, das Empregadas Domésticas e das Prostitutas. Lhé usava recursos da família para criar ou fortalecer sindicatos, como o de trabalhadores rurais de Xapuri.
Manoel Pacifico da Costa
Nascido em Rio Branco em 1945, Manoel Pacífico estudou filosofia e teologia em Roma. Nos anos 70, já como padre atuou em Brasiléia e Rio Branco. Ajudou Dom Moacyr Grechi, na criação das comunidades eclesiais de base. Pacifico deixou o sacerdócio em 1975, dois anos depois casou-se e hoje tem três filhos. Na década de oitenta Pacífico filiou-se ao Partido Comunista do Brasil (PC do B), elegendo- se deputado estadual pela legenda. Em 2007 Manoel Pacifico criou o Instituto Ecumênico Fé e Política, que busca a construção de uma sociedade mais justa e fraterna, promove atividades educativas de caráter ecumênico, a partir da cooperação entre igrejas e instituições religiosas. O Instituto reúne evangélicos, kardecistas, católicos, umbandistas e ayahuasqueiros.
Raimunda Bezerra
Raimunda Bezerra, 66 anos, nasceu em Brasiléia e é filha de ex seringueiros. Até os 23 anos morou em seringais e colônias. Começou a dar aulas aos 16 na zona rural. Já em Rio Branco, ela começou o engajamento social na igreja católica da Estação Experimental, onde participava da comunidade de base. Na década de 70, foi uma das fundadoras do Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre (CDDHEP), que atua na orientação de cidadãos em questões relacionadas à terra, moradia, crianças e violência de gênero. No bairro Seis de Agosto, ajudou a implantar a Rádio Comunitária Gameleira, que é importante ferramenta de mobilização, educação, informação e interação. Raimunda bezerra, teve como grande amigo, Chico Mendes. Depois da morte de Chico, foi uma das que levaram adiante sua luta pela criação de reservas extrativistas e organização de trabalhadores.
Da Assessoria
Fotos Assis Lima e Fagner Delgado/DECOM