Por Lucas Moura
Pouco fôlego e muita água. Esses dois elementos são características marcantes do 7º Curso de Mergulhador Autônomo (CMAUT) do Estado do Acre, que iniciou com 30 inscritos e encerrou com apenas 17 concludentes. Dentre os novos mergulhadores, está o 3º SGT PM Ruy. Sua história na vida operacional tem amplo repertório, o qual é marcado por muita força de vontade e superação.
Talisson Ruy Batista da Silva, 35 anos, ingressou na Polícia Militar do Acre (PMAC) em 2013 e, atualmente, serve na Companhia de Operações Especiais (COE), núcleo do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Desde o Curso de Formação de Soldado (CFSD), o desejo pela vida operacional moldou a sua carreira. O militar é formado no Curso de Força Tática (2018), Curso de Ações Táticas do Amazonas (2022) e no Curso de Mergulhador Autônomo (2024). Este último é símbolo de autossuperação, pois foi onde o militar encontrou a oportunidade de vencer mais um desafio.
No ano de 2021, o policial tentava concluir o Curso de Ações Táticas Especiais do Acre (Cate). Durante a instrução de noções de mergulho, desmaiou no fundo da piscina e foi encaminhado às pressas para o Pronto-Socorro de Rio Branco, onde foi diagnosticado com úlcera estomacal. Assim, o sonho do brevê foi levado pela falta de oxigênio embaixo d’água e por uma doença inesperada.
Em 2022, Ruy tentou novamente fazer o Cate, mas agora no Amazonas, onde logrou êxito na conquista do brevê. No entanto, o episódio vivenciado que o tirou do Cate em 2021 ainda o incomodava. Faltava-lhe algo, o sentimento de tropeço permeava seu coração. Surgia, então, um novo desafio, que era o de estar entre os melhores mergulhadores de resgate do Acre. “Depois do acidente no Cate, o sentimento de falha ficou me remoendo. Eu sempre tive uma boa aptidão para a água e ser desligado do curso em 2021, na etapa de água, me deixou muito angustiado. Ainda que eu tenha conquistado o brevê do Cate em 2022, eu sentia que faltava me desafiar. Então, abriram as inscrições para o 7º CMAUT”, relatou o cateano.
A oportunidade surge em 2024, e o SGT da PM encara novos desafios por sessenta e dois dias. O CMAUT é considerado um dos cursos mais difíceis no âmbito do Corpo de Bombeiros Militar, pois exige muita capacidade técnica e física, visto que o mergulhador atua nas águas turvas do Acre. No decorrer do curso, várias provas foram realizadas, e para Ruy, um dos momentos em que mais passou dificuldades foi quando teve que fazer uma prova de mergulho estando doente. “Nas segundas-feiras nós realizávamos provas. Em uma delas, fiz uma prova prática estando me sentindo muito mal, estava doente e com febre. Os que não passavam na prova eram automaticamente desligados, mas pela força de Deus consegui vencer essa etapa do curso”, destacou, agradecido.
Apesar das superações no curso, o maior desafio estava por vir, a prova final. O último dia do CMAUT é marcado com a chamada “Arrebentação”, que é a prova mais desafiadora do curso. Nela, dois alunos, abraçados um ao outro, são lançados na piscina com apenas um cilindro de ar que deve ser compartilhado entre os companheiros, enquanto os instrutores literalmente rodam os candidatos em todos os ângulos embaixo d’água durante cinco minutos. “Essa prova sem dúvidas é a que mais demanda autocontrole, pois durante cinco minutos ficamos confiando no canga (companheiro) que está com você para compartilhar o oxigênio. Graças a Deus vencemos essa etapa e saímos da piscina formados”, disse o concludente.
Para o combatente, o desejo por fazer cursos operacionais é o modo como ele encontrou para auxiliar aqueles que necessitam. Além disso, o militar considera que mais importante do que ostentar o brevê – símbolo de autossuperação – é repassar ao próximo o conhecimento adquirido. “Quando se forma num curso operacional, o coração se enche de alegria, por vencer um processo tão doloroso e difícil. Mas o brevê representa muito mais que isso, representa a responsabilidade para com o próximo, é estar disposto a ajudá-lo. Também gosto de repassar meus conhecimentos para aqueles que desejam fazer algum curso, pois o conhecimento que não é repassado não gera frutos”, enfatizou Ruy.
O primeiro CMAUT do Acre aconteceu em 2000 e foi o primeiro curso operacional a ser realizado no âmbito da segurança pública do Acre. São 24 anos de muita história e serviços prestados à população acreana. Ao todo, o curso formou 147 mergulhadores de resgate, já somados os novos 17 mergulhadores de resgate formados no 7° CMAUT. O curso, iniciado em 4 de abril e findo em 4 de junho, formou 14 bombeiros militares acreanos, 1 bombeiro militar da Bahia, 1 agente socioeducativo e o 3° SGT da Polícia Militar do Acre, Ruy.
A honrosa conquista é símbolo de realização pessoal e superação. Para o militar, o caminho ainda tem muitas milhas a serem percorridas e espera poder fazer outros cursos para melhor atuar como profissional no cumprimento do dever. “Não pretendo parar. Quando entrei na PMAC decidi que não cederia ao comodismo. Desde então, busco me especializar para melhor prestar meus serviços. Se Deus quiser, lograrei novas conquistas na minha caminhada, pois somente ele sabe de todas as coisas”, finalizou o mergulhador de resgate do Acre.
*Lucas Moura é SD da Polícia Militar. Exerce a função de jornalista na Assessoria de Comunicação da PMAC
Fonte agencia.ac.gov.br