Cruzeiro do Sul, AC, 23 de novembro de 2024 20:09

O voto de César Messias ao impeachment

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 Deputado federal César Messias(Foto: Onofre Brito)
Deputado federal César Messias(Foto: Onofre Brito)

Uma semana antes a decisão da Câmara dos Deputados decide se será aberto o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, apenas um parlamentar acreano não havia decidido seu voto a favor ou contra à deposição da presidente, o deputado federal César Messias (PSB). Neste domingo, horas antes de viajar para Brasília, ele concedeu uma entrevista em que fala sobre o momento atual que passa o País, condenou o sistema político, defendeu reformas profundas, eleições gerais em todos os níveis e declarou quer vai votar contra o processo de impeachment garantindo que não há fato jurídico que justifique o processo.

Veja abaixo a íntegra da entrevista:

 Deputado, como o senhor avalia o momento político por que passa o País nesse momento?

O Brasil vive um momento muito difícil em sua democracia. Estamos vendo crises em cima de crises. Estamos vivendo crise financeira, crise política profunda, uma crise ética muito grande e uma crise de líderes. O País está sem líderes e isso é uma coisa muito grave. E, em cima dessas crises que vivemos, acho que o Congresso está tendo posturas muito difíceis que contribuem para a situação que estamos vivendo. Nós estamos vivendo a maior crise da democracia brasileira. O sistema político do País está podre e está podre há muito tempo, não é de agora. O que está com problema não é o PT. O que está com problema é o PT, é o PSB, que é o meu partido, é o PMDB, é o PSDB, é o PP, é qualquer partido hoje, pois quase todos estão envolvidos nos escândalos que surgem todos os dias. Nós temos é que trocar o sistema político do Brasil que está podre, está ultrapassado. A democracia de hoje não que mais isso. A democracia não quer mais Dilma, não quer Temer. Ela quer algo novo. Então, não é tirando Dilma e botando Temer que nós vamos resolver o problema do Brasil. Nós vamos resolver o problema com um novo sistema político brasileiro.

 Diante do que o senhor fala, como é possível livrar-se dessas crises constantes?

Eu acho que a saída para o Brasil, tem que ser dentro da democracia, dentro da lei, dentro daquilo que a Constituição brasileira determina. É em cima dessa determinação que o Congresso tem que tomar as suas decisões. É humanamente impossível fazer-se uma coalisão para governar o Brasil e tentar juntar partidos para se fazer uma base de sustentação ao governo com mais de 30 agremiações. Isso nunca será possível.  Eu estou há 15 meses como deputado federal e estou vendo isso lá dentro do Congresso. É o sistema que está podre. Para a gente consertar o sistema tem que ser mudado.

 Muitos dizem que a solução passa pela saída da presidente Dilma

Tirar Dilma e botar o Temer não vai resolver. Mas, me digam, quem é o Temer? Não tenho nada contra ele, mas ele é do PMDB e eu não vejo nos últimos 20 anos qualquer esquema de corrupção no Brasil que o PMDB não esteja envolvido. O Temer não representa para o Brasil uma segurança política porque o partido dele é corrupto. Ele já procurou o líder do meu partido, já procurou o presidente do meu partido para negociar. Isso é terrível. Isso é a política velha que ele representa para o Brasil. Daí, se não pode assumir a Dilma e nem o Temer assume quem? O Cunha que está no centro da corrupção. Se o Cunha não pode, assume o Renan. De onde vem o Renan? Do centro da corrupção também. Então, eu repito, não é tirando Dilma e botando Temer que se vai resolver a questão do Brasil. A questão do Brasil nós vamos resolver quando a gente fizer uma grande reforma política, jurídica, previdenciária, trabalhista, entre outras, pois o que o Brasil precisa é de reformas.

 E como é que a gente chega a essas reformas tão esperadas?

Hoje, o que nós estamos vivendo é um momento em que temos que passar uma borracha e viver um novo momento político. Eu, com toda sinceridade, defendo uma nova eleição para tudo no Brasil. Sempre defendi isso dentro da minha bancada, dentro do meu partido.

 O que o senhor defende é eleições gerais em todos os níveis?

Sim! Eleições gerais.

 E o senhor estaria disposto a abrir mão do seu mandato para que isso possa acontecer?

Certamente que estou. A incerteza e a instabilidade do País requer isso, requer um novo Brasil. E acho que a gente poderia, inclusive, aprofundar as questões defendendo que os parlamentares que aí estão, façam as reformas profundas que estamos precisando no Brasil. Para tanto, bastava que se fizesse um plebiscito que regulamentaria a não reeleição desses nos próximos pleitos. Assim, teria-se independência para trabalhar pelas reformas sem a preocupação com as urnas.

 Mas já não foi feita uma reforma política recente no Congresso?

Iniciamos uma reforma política no Congresso, mas o que foi que nós fizemos? Nada! Simplesmente abrimos uma janela que permitia mudar de partido, transformando isso em uma banca de negócios. Precisamos fazer uma reforma no sistema  político brasileiro, pois não se administra um país com 30 e tantos partidos como é o sistema hoje. É humanamente impossível fazer isso. Nós temos que ter partidos de esquerda, de direita, de centro e de qualquer ideologias, mas que tenha, no máximo, cinco ou seis partidos. Não se pode fazer uma administração com um sistema político que temos.

 Dentro da sua proposta de eleições gerais, valeria a proposta de que esses novos parlamentares tenham a incumbência de similar à de constituintes, ou seja, o de serem os responsáveis pela elaboração dessas reformas?

Eu acho que qualquer deputado, qualquer senador ou qualquer parlamentar que seja responsável por essas reformas que o Brasil não pode voltar a ser candidato a nada, pois se assim não for, ele não fará as reformas. Se fora assim, ele estará pensando na opinião pública e não vai fazer as reformas, ele vai estar pensando nas próximas eleições, no próximo voto que ele vai ter e não vai ter a coragem de legislar pelo que realmente é necessário para o País.

 E qual sua opinião sobre a Operação Lava-Jato?

Eu acho quer a Lava-jato é um bem para o Brasil. Todos nós queremos passar o País a limpo. Quem tem culpa que pague os seus pecados. O Brasil não pode mais ser sangrado como estava sendo até então. Agora, dizer que a corrupção no Brasil chegou agora é como se faz parecer é absurdo. A corrupção no Brasil vem lá de trás. O sistema está corrompido desde muito e a Lava-Jato pode nos ajudar a resolver isso. A corrupção na Petrobras, por exemplo, existe desde que Getúlio Vargas criou a empresa nos anos de 1950. Não é de hoje que ela acontece. Ela existiu em todos os governos, nos militares, no de Fernando Henrique Cardoso e no do Lula. O esquema da propina existiu em qualquer governo e isso é histórico no Brasil. Mas agora, os instrumentos de investigação, de controle, e de comunicação que foram criados nos últimos governos permitiram que esse esquema estourasse agora. Ainda bem que aconteceu isso, pois vai parar de sangrar a Petrobras e as outras empresas públicas do País que estavam sendo dizimadas pela corrupção. E quem fez a corrupção tem que pagar, tem que ir para a cadeia.

 Dos parlamentares federais acreanos, o senhor é o único até agora que não revelou seu posicionamento em relação ao impeachment. O senhor estaria indeciso sobre como deve votar?

Eu nunca fui de ficar em cima do muro. E minhas posições foram sempre fundadas em muita reflexão e análise, pois nunca fui maria-vai-com-as-outras. Eu voto contra o impeachment e vou explicar porque: Assumi o mandato jurando cumprir a Constituição do Brasil, por isso voto contrário ao impeachment da presidente Dilma, haja vista que não há nenhum fato jurídico previsto na Constituição que justifique sua saída do poder. Não existe nenhum crime de responsabilidade praticado pela presidente Dilma. Eu cheguei a essa conclusão fazendo diversas consultas a juristas de confiança. Analisando tudo, encontrei, simplesmente, fatos políticos. Na reunião do meu partido, fiz a argumentação do porque é um processo político. Veja só: o processo só foi aceito pelo presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha, no momento exato em que a bancada do PT, no Conselho de Ética votou por aceitar o processo de cassação do mandato de Cunha por corrupção. Tenho certeza que esse é um processo de vingança, de revanche de Eduardo Cunha. Ele é um corrupto nato e eu não posso compactuar com isso. O segundo fato que me faz crer que esse é um processo político se deu quando encerrou a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. Quando encerrou a votação e Dilma foi eleita com 54 milhões de votos, a partir daquele momento, quando houve a entrevista do seu adversário, o senador Aécio Neves, e ele declarou que a eleição não tinha sido justa, a partir daquele momento, ele começou uma conspiração com os grandes meios de comunicação, inclusive com a Globo, para poder armar e fazer impeachment e é o que estamos vendo hoje. Em cima disso foi que falei para o meu partido que sou contra o impeachment.

 Como o seu partido recebeu essa informação, já que é oposição à presidente Dilma?

 O meu partido realizou uma reunião na semana passada com todos os parlamentares se posicionando sobre os seus votos a favor ou contra o impeachment. Eu também me manifestei defendendo o meu voto que torno público aqui. Eu não sou nenhum jurista, mas não sou nenhum leigo também e não vejo nenhum argumento jurídico que justifique o impeachment da presidente Dilma.  Meu partido é um partido democrático. Desde 2013 que somos oposição ao governo que está aí em nível nacional, mas, em nível local nós temos uma composição que tem dado certo até hoje pelo bem do Acre. Eu tornei isso público ao meu partido e ele entendeu o meu direito e o meu dever de votar conforme a minha consciência e entendimento.

Por Assessoria