Por: Resley Saab
O policial civil Rubens Saab, de 73 anos, 51 deles servindo ao Estado do Acre, pode se orgulhar do currículo que tem. Já contribuiu para a formação de mais de 1,8 mil policiais civis, militares, bombeiros e agentes penitenciários. Como instrutor na academia de polícia; também coordenou a reestruturação do sistema de rádio e telecomunicações das forças de segurança no estado e ajudou na implantação do moderníssimo sistema de rádio digital. Coleciona ainda uma dezena de honrarias, medalhas e outros reconhecimentos.
Mas o que Saab tem em comum com a professora Ketlen Menezes, de 26 anos, sem nenhuma experiência, e que foi empossada com outros 340 professores, no início deste mês pelo governador Gladson Cameli, é a vontade de servir à coletividade, cuidando com carinho daquilo que é de propriedade do povo, das coisas que pertencem ao bem comum, da administração pública.
No Dia do Servidor Público, celebrado nesta quarta-feira, 28, – cujo feriado foi transferido por decreto governamental para a próxima sexta-feira, 30 -, saiba mais sobre a história desses servidores e de outros que, lotados em Rio Branco, fazem a diferença na gestão pública do Acre e são exemplos de amor e de dedicação aos ofícios que desempenham.
Aos 73 anos, servidora vai aprender informática
Pelo menos 49.561 servidores, entre ativos, inativos e pensionistas, compõem hoje o funcionalismo do Governo do Estado do Acre. Só para efeito de comparação, esse número supera em 3.145 o total de empregados na Petrobras, uma das maiores estatais do país, que hoje tem 46.416 trabalhadores. A folha de pagamento do governo do Estado é de R$ 265 milhões mensais.
Nesse grupo de quase 50 mil servidores, no entanto, há uma porcentagem considerável de trabalhadores acima dos 60 anos na ativa, seja porque gostam da função, seja porque ainda esperam por algum benefício que possam elevar seus salários.
É o caso de Raimunda Vieira da Silva Aguiar, de 73 anos. No dia 1º de outubro de 1981, ela foi contratada como técnica de contabilidade pelo então governador Joaquim Falcão Macedo. À época, o órgão chamava-se Assessoria de Administração, e nos dias de hoje denomina-se Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão Institucional, a Seplag.
E uma das centenas de demonstrações de abnegação ao trabalho, ao longo desses 39 anos de carreira, aconteceu nesta terça-feira, 27, quando nem as dores no ombro que há anos reverberam lancinantes pelo seu braço e pela mão esquerda a impediram de ir assistir à primeira aula do curso de Informática Básica, oferecido pelo Núcleo de Tecnologia Educacional, da Secretaria de Estado de Educação, Cultura e Esportes, na Escola Lourenço Filho, na capital.
“Olha, vou dizer uma coisa. Eu ainda tenho cabeça pra aprender. Eu não posso parar agora porque tenho muito que aprender. Vem essa dor que começa aqui no ombro e vai lá para as pontas dos dedos, mas não deixo me abater com isso. Faço de conta que ela não existe. Eu não a escuto”, relata Raimunda.
E continua: “Dez anos atrás, eu já poderia ter me aposentado, mas não quero isso ainda, e todos os dias eu peço força a Deus para ir trabalhar. Ele é bom e me concede isso”, filosofa, no intervalo das aulas.
Ao lado de Raimunda está a colega Francisca Cruz de Oliveira, de 60 anos, dos quais 34 dedicados ao serviço público. Começou a carreira também na antiga Assessoria de Administração, hoje Seplag. Era datilógrafa, o profissional que dominava as máquinas de escrever.
“Ali, eu conferia o nome de ‘tudinho’ [todos os servidores do Estado] por várias vezes pra não dar erro. Uma vírgula fora do lugar já dizia muita coisa. Poderia dar problema”, lembra.
No seu setor, Francisca já viu de tudo: “De gente ignorante a mal amada. Tem sempre aquele que coloca o pé na frente da mão e gera problema. Mas nossa missão, enquanto servidor público, é ter tranquilidade e tratar a arrogância devolvendo amor e civilidade”, ensina ela.
Seu primeiro curso foi de datilografia. Hoje se gaba de ter 444 certificados de conclusão de cursos: “São três ‘quatro’ já. Quatro centenas de certificados”.
“Minha missão será elevar o Ideb”, diz professora no primeiro emprego
Estabilidade na carreira, progressão salarial, premiações remuneratórias, licenças-prêmios, férias e uma aposentadoria ao final dos anos de trabalho geralmente são as atrações para quem opta por ingressar na carreira pública.
Esse pensamento permeou a cabeça da jovem Ketlen Cristina dos Santos Oliveira Menezes, de 26 anos, quando prestou concurso para professor. Graduada em Língua Portuguesa desde 2016, neste mês de outubro ela entrou definitivamente para o quadro de docentes do governo do Estado, ao ser chamada pelo governador Gladson Cameli junto aos 341 novos profissionais da rede pública estadual de ensino convocados para assinar o contrato.
“Foi um presentão que eu dei para mim mesma. Nossa, é meu primeiro contrato efetivo e foi uma surpresa quando fui comunicada que eu ia assinar os papéis”, diz, esboçando sorrisos de felicidade.
Em fevereiro, Ketlen também passou nas provas do concurso da Prefeitura de Rio Branco para intérprete de língua brasileira de sinais (Libras), e lá também já foi chamada para trabalhar. “Eu estou de manhã na Escola Edilson Façanha, no bairro Calafate, e à tarde como intérprete de alunos da prefeitura. Aqui na Educação estadual, quero ajudar a elevar cada vez mais o Ideb da escola, que tem muitas crianças carentes. Essa será a minha missão”, entusiasma-se.
O Ideb é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas públicas. Pelo segundo ano consecutivo, o Acre manteve-se em primeiro lugar na região Norte, no ranking do Índice nas séries iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano).
Do código Morse aos rádios digitais, o poder de se reinventar como profissional
Nos corredores da Secretaria de Estado da Justiça e Segurança Pública do Acre (Sejusp), brincadeiras com referência a Matusalém e Noé são recorrentes por parte dos colegas, direcionadas ao policial civil Rubens de Oliveira Saab, 73 anos. Também, pudera. Ele é o mais antigo servidor na ativa na instituição, com 51 anos de casa, e hoje responsável por coordenar o Departamento de Radiocomunicações da secretaria.
Seus serviços prestados no governo do Estado remontam a 1º de janeiro de 1968, quando foi contratado como agente de telecomunicações. “Vim da era da radiotelegrafia, do código Morse, quando as comunicações se davam pelo ‘piri-pi-pi’, como as pessoas chamavam o sinal. Um conjunto de traços e pontos que até hoje é um dos mais eficientes meios de se comunicar a distância, via rádio”, destaca Saab.
Em 1984, fez a transição para o cargo de agente de polícia e hoje tem orgulho de ter se reinventado como profissional. “Nunca parei no tempo. Sempre aprendi. Me adaptei a cada nova tecnologia e agora me orgulho de estar capacitando todas as nossas polícias para operarem os novos rádios digitais, que chegaram há pouco tempo para melhorar ainda mais a interlocução de nossas bases com as radiopatrulhas”, ressalta o policial.
Neste momento, Rubens Saab participa também do projeto de instalação da nova sala do Centro Integrado de Operações em Segurança Pública, o Ciosp, que reúne todas as informações de urgência e emergência, onde estão os operadores do número 190, por exemplo. Em 2021, ele se aposenta compulsoriamente.