O território acreano é dividido em cinco regionais: Baixo Acre, onde está a capital, Rio Branco; Alto Acre, região de fronteira com Peru e Bolívia; Vale do Juruá, onde fica a segunda cidade acreana mais populosa – Cruzeiro do Sul; Vale do Purus e Tarauacá-Envira. É nessa última que vivem os povos Kaxinawá e Shanenawa, contemplados com os cursos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), desenvolvido pelo Instituto Federal do Acre (Ifac).
Dois cursos estão em andamento. O de Artesanato Indígena na aldeia Pinuya, menor terra indígena da região Norte, localizada a aproximadamente seis quilômetros de Tarauacá, onde vive parte do povo Kaxinawá. O outro curso é o de Agricultor Orgânico, ofertado na aldeia Shane Kaya, aldeia que tem uma mulher na liderança, a cacique Enir Brandão Shanenawa.
A coordenadora adjunta do Pronatec na regional Tarauacá-Envira, Daiana Araújo, explicou que os cursos são ministrados dentro dessas duas aldeias, mas atende a indígenas de outras também. “A ideia é que todos se tornem multiplicadores dos conhecimentos adquiridos nos cursos”.
A novidade na execução dos cursos em aldeias indígenas na regional Tarauacá-Envira é a integração de professores indígenas. “A nossa regional é pioneira quando o assunto é cursos do Pronatec nas aldeias indígenas. Em 2014, formamos quatro turmas nas aldeias Morada Nova, em Feijó, e aldeia do Caucho em Tarauacá. Na época formamos 130 alunos indígenas. E agora temos professores que são dessas comunidades. Que entendem melhor do que ninguém as peculiaridades do ensino para estes povos. Temos três professores Kaxinawas e um Shanenawa”, esclareceu a coordenadora adjunta.
O trabalho do Ifac nessas aldeias conta com a parceria direta da Fundação Nacional do Índio – FUNAI, da Organização dos Professores Indígenas do Acre – OPIAC e do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas – NEABI do Campus Tarauacá do Ifac. As quatro instituições pensam juntas o planejamento e a execução dos cursos de forma adaptada e apropriada para realidade e cultura de cada povo.
Para o diretor geral do Campus Tarauacá, Sérgio Flórido, é um trabalho magnifico, pois valoriza, respeita e estuda a cultura de cada povo. Segundo ele, além de alunos do Pronatec, o Ifac tem alunos indígenas no ensino médio integrado. “Tudo isso representa um avanço para o Ifac, no sentido de inclusão dos povos indígenas na educação pública federal”, ressaltou.
A cacique Enir Brandão Shanenawa manifestou a satisfação de ver o povo da aldeia aprendendo com o curso do Pronatec. “Vivemos em uma terra em que algumas áreas que precisaram ser reflorestadas com leguminosas, frutas para a nossa subsistência e com o curso de Agricultor Orgânico o meu povo vai poder dar mais qualidade a essa produção, consequentemente para a alimentação de todos os dias e quem sabe para a futura comercialização”, comentou.
O trabalho pioneiro em Tarauacá deu tão certo que o Instituto expandiu a oferta de cursos do Programa para outras regionais acreanas. Hoje, também existem turmas nas regionais dos Vales do Juruá e Purus.
“É muito gratificante ver a execução dos cursos nas aldeias, principalmente, ouvir das lideranças, professores e alunos os relatos de que os cursos têm resgatado atividades da cultura tanto do povo Kaxinawa quanto o povo Shanenawa”, conclui a coordenadora Daiana.