Terça ao alvorecer. A missão é resgatar uma criança indígena com um quadro clínico de infecção generalizada decorrente de uma hepatite grave. Residente em uma aldeia de dificílimo acesso geográfico, região do Alto Rio Juruá no município de Feijó, seria necessário cerca de dez dias para chegar ao local, acessível apenas por via fluvial.
Em Rio Branco, a equipe do Serviço Móvel de Urgência (Samu) já está apostos. No comando da operação, o médico Pedro Pascoal, que responde pela coordenação do serviço. A ambulância dá lugar ao helicóptero João Donato (Harpia 01), uma determinação do governador Gladson Cameli, que disponibilizou a aeronave do Estado para o suporte aéreo do Samu no transporte de pacientes em situações graves de um município para outro.
Três horas após deixar a aldeia, a criança, da etnia Kulina, dá entrada ao Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb). A agilidade e a cautela com o paciente foram os pontos marcantes da remoção, lembra Pascoal. “Se o paciente tivesse que ser transportado via fluvial levaria cerca de 10 dias para chegar. Isso mostra a real necessidade do helicóptero nessas aldeias de difícil acesso. Em situações como essa, um helicóptero com equipe médica a bordo chega em minutos ao local de resgate, presta o socorro imediato e decola em direção ao hospital de referencia”, salienta.
O helicóptero trabalha em parceria com o Samu fazendo ações de urgência e salvando vidas em todo o estado desde março deste ano, o que tem reduzido os custos com fretamento aéreo no orçamento da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) para situações emergenciais de atendimento a população acreana.
“O uso do helicóptero já é uma realidade nos grandes centros do país, no auxílio de regastes de pacientes graves do Samu e Bombeiros. No início do ano de 2019, o helicóptero foi colocado de forma efetiva à disposição do Samu, o que conseguimos dobrar o recurso repassado pelo Ministério da Saúde, e através do convênio repassar para a Secretaria de Segurança, que também tem como prioridade a vida”, destaca o médico.
A equipe médica preparada, a agilidade no transporte e o suporte da tripulação são fatores essenciais para que as missões de resgate aéreo ocorram da melhor forma possível, conduzindo vidas à esperança de cura e tratamento com maior agilidade. Por isso, segundo Pedro Pascoal, todas as operações são feitas em conjunto, com uma equipe engajada, unida e, sobretudo, humanizada.
Apesar da pouca idade, no auge de seus 29 anos de idade, a competência e profissionalismo do médico, hoje coordenador do Samu, têm contribuindo de forma positiva para o sucesso das operações de resgate aéreo. Periodicamente passando por cursos de atualizações, Pascoal é pós-graduado em Urgência e Emergência pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde também realizou o curso de Pré-Hospitalar Trauma Life Support (PHTLS), além do curso de Transporte Aeromédico pelo Instituto de Saúde de São Paulo (IESSP). O médico está há cinco anos no Samu e já foi responsável técnico pelo Serviço de Transporte Aeromédico da empresa Rio Branco Aerotaxi Ltda.
Voo pela vida – Resgate aéreo
Nestes oito meses da nova gestão, a parceria entre o helicóptero do governo e Samu já contabiliza cinco missões de transporte de pacientes em estado grave, que necessitavam de atendimento especializado na capital. Os dois últimos resgates ocorreram há poucos dias, ambos com vítimas de acidente de trânsito.
Relembrando
Era tarde de domingo, no dia 21 de julho, quando o Samu foi informado de um grave acidente de trânsito no município de Brasileia, distante cerca de 230 quilômetros de Rio Branco. Um jovem de 24 anos havia fraturado órgãos internos na região da barriga e o braço direto, além disso, estava inconsciente e corria risco de morte. Diante da gravidade, o Samu decidiu acionar o serviço de resgate aéreo por meio do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer).
Uma missão também delicada e cautelosa foi realizada no último dia 5 pelo Harpia 01 e equipe do Samu, transportando um paciente de Sena Madureira até a capital acreana. O paciente, um homem de meia idade, havia sido atropelado e seu estado de saúde era gravíssimo.
De acordo com socorristas do Samu que participaram do resgate sob o comando do tenente-coronel Alzeniro Fontes, o homem sofreu afundamento do crânio e não sobreviveria ao acidente se tivesse que ser removido ao hospital daquele município ou se fosse deslocado para Rio Branco pela BR-364.
Compromisso com a vida
Em todos os resgates, a aeronave leva a bordo equipamentos necessários ao resgate, além de uma equipe especializada para fazer os primeiros socorros antes e durante o voo. A tripulação é composta por dois pilotos, um militar de resgate, um médico e um enfermeiro do Samu.
Estudos apontam que, caso a vítima seja submetida a tratamento adequado, especialmente dentro da primeira hora após o acidente, maiores são as chances de sobrevivência e menores as sequelas. A remoção do paciente de Brasileia até Rio Branco foi concluída em apenas 45 minutos. Já o de Sena Madureira levou cerca de 40 minutos até a capital.
Mais que uma parceria, uma missão de salvar vidas
Em março deste ano, o governador assinou o convênio que assegurou a continuidade do serviço de resgate e transporte aéreo entre o Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) e Samu. O recurso financeiro destinado para manter a parceria entre as instituições é 60% maior que o da gestão passada. Desta forma, o atual governo demonstra seu interesse em ofertar e ampliar este importante atendimento voltado para a área da Saúde.
Por: Lane Valle