Por Eliel Mesquita
União. Termo que, segundo o dicionário, significa firmar alianças e propósitos, unificando ideias em torno de um objetivo. Neste momento de crise, em que rios do Acre transbordam e invadem lares de milhares de famílias, a união, sobretudo de esforços do poder público, tem sido essencial para que os acreanos enfrentem o momento de dificuldade com dignidade e mantenham viva a esperança de dias melhores.
“Não é fácil ter que passar por essa situação [cheia dos rios] todos os anos”, resume Ivanilde de Lima, ao ser resgatada de sua residência na última terça-feira, 5, no bairro Miritizal, em Cruzeiro do Sul. “É uma luta e um perrengue. Eu choro ao sair e ao retornar para a minha casa”, relata a ribeirinha.
O transtorno, que afetou também seus três filhos, vem sendo amenizado por meio da política que concentra esforços do Estado, dos municípios e da União, criando uma força-tarefa que monitora a movimentação do nível dos mananciais e leva o socorro às vidas dos que habitam as margens dos rios que cortam o Vale do Juruá.
“Da mesma forma que fico angustiada ao passar por essa situação, também agradeço a cada um que tem me ajudado. Todos os envolvidos estão de parabéns, pois este ano o resgate foi rápido, não deu trabalho e fizeram tudo direitinho. Foi uma bênção”, ressalta Ivanilde.
Cheia no Juruá: quase 60 mil pessoas atingidas
Até o momento, cerca de 60 mil habitantes do Vale do Juruá, segunda maior e mais populosa região acreana, foram afetados pela elevação dos rios Envira, em Feijó; Muru e Tarauacá, em Tarauacá; e Juruá, que corta Cruzeiro do Sul, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo e Rodrigues Alves. Os dados são levantados pela Defesa Civil dos municípios e pelo Corpo de Bombeiros Militar.
Entre os municípios da região, apenas Mâncio Lima não apresentou cheia. As regiões estão entre as 19 cidades do Acre em situação de emergência, declarada pelo governador Gladson Cameli, por meio do decreto nº 11. 421, em que, no período de 180 dias, o governo federal autoriza os órgãos do Sistema Nacional de Proteção e de Defesa Civil sediados no território estadual a prestar apoio suplementar às regiões afetadas, mediante articulação com a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil.
Estrutura estatal à disposição
Com os rios da região acima da cota de transbordo, toda estrutura governamental local foi colocada à disposição para socorrer as vítimas das cheias. Os núcleos de secretarias, departamentos e autarquias do Estado estão mobilizados para auxiliar as prefeituras com logística, pessoas e distribuição de alimentos e medicamentos, ofertando solidariedade aos necessitados.
Cerca de nove toneladas de alimentos foram repassadas pelo Estado ao Município de Marechal Thaumaturgo, na sexta-feira, 1º. A ajuda humanitária à localidade de difícil acesso soma-se ao envio de medicamentos, como hipoclorito e antibióticos, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), além de reforço da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), que oferece apoio logístico e na condução das atividades.
As vítimas da cheia histórica de Porto Walter foram socorridas com entrega de roupas, sacolões e medicamentos para o tratamento da água, entre outros itens. Em Tarauacá, com cerca de 85% do município alagado, o governo do Acre coordena, em parceria com a prefeitura local, as ações de assistência às vítimas.
Em Feijó, o governo do Acre está ao lado da população atingida pelas inundações. Na segunda maior cidade dos acreanos, as quase 20 mil pessoas atingidas pelas águas, até o momento, recebem assistência do Executivo municipal, que tem o governo do Acre como grande parceiro na missão de enfrentamento do momento de crise.
Juntos pelo Acre: fonte de dignidade aos ribeirinhos durante as cheias
O programa Juntos pelo Acre, uma iniciativa do governo do Estado, leva ajuda humanitária às mais diversas e distantes regiões inundadas pelas águas do Rio Juruá.
Na zona rural de Rodrigues Alves, município vizinho a Cruzeiro do Sul, moradores celebraram a chegada dos mantimentos, que os ajudarão a superar o momento com mais dignidade. “As águas subiram e a preocupação veio junto, né? A gente já fica pensando na situação, no que vai enfrentar a partir de agora. Mas Deus envia pessoas boas para ajudar a gente”, diz Maria Helena de Azevedo, moradora antiga do município.
Os mantimentos saciarão a fome de Francisco Magno da Silva e de outras seis pessoas que formam sua família. A cheia dificulta aos ribeirinhos a aquisição de uma alimentação adequada. “Há 12 anos vivemos a mesma situação, e receber qualquer ajuda faz a diferença nesse momento difícil”, enfatiza Francisco, que abre um largo sorriso ao levar para casa uma cesta sortida de itens.
A entrega de quase uma tonelada de donativos, nesta quarta-feira, 6, marcou o início da intervenção do programa no município, em que a maior parcela da população se concentra na zona rural, a mais afetada pela elevação das águas.
“Outras cidades, como Marechal Thaumaturgo e Porto Walter, que também passam por momento crítico, receberam ajuda humanitária por meio do Juntos pelo Acre, que seguirá estendendo suas ações à região em que existir ribeirinhos necessitados”, garantiu Caren Carvalho, gestora local da Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), pasta responsável pela entrega realizada em Rodrigues Alves.
Ajuda indispensável
Além de milhões em suporte financeiro, o governo federal disponibilizou, para a região, apoio logístico e recursos humanos para auxiliar os ribeirinhos. O reforço tem sido primordial e indispensável no trabalho de remoção das vítimas das regiões consideradas de risco.
O Exército Brasileiro, por meio do 61º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), com sede em Cruzeiro do Sul, disponibilizou veículos e embarcações, e um quantitativo de 56 militares para fortalecer a força-tarefa de enfrentamento à crise. A Marinha do Brasil atua com o trabalho de vistoria dos rios.
A estrutura é reforçada pelo governo do Estado, por meio do 4° Batalhão de Educação, Proteção e Combate a Incêndio Florestal (4ºBEPCIF), que atua diariamente em Cruzeiro do Sul, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo, para levar assistência aos ribeirinhos com um contingente de 30 militares, quatro caminhonetes, sete embarcações e uma motocicleta, além de um drone para mapear a mancha de inundação, que é o trajeto percorrido pelas águas.
“É um momento de união entre as esferas do Poder Executivo e a população, para amenizar o sofrimento de acreanos que tiveram suas residências invadidas pelas águas ou que viram sua plantação, que é o meio de subsistência da maioria dos que habitam áreas alagadiças na zona rural, totalmente destruída pela elevação dos mananciais. Nós estamos aqui para mitigar esses danos, com os serviços de orientação e retirada das famílias de áreas vulneráveis”, ratificou Jozadaque Ibernon, comandante do 4ºBEPCIF.