O estádio municipal, que já foi uma referência para toda a região do Juruá, vive situação de abandono: transformou-se em refúgio de marginais, criadouro de cobras e de mosquitos da dengue.
Até mesmo os que não apreciam o esporte, gostam de visitar um estádio de futebol. Espaço destinado preferencialmente à prática do esporte que é paixão nacional, os estádios também servem para sediar outros eventos. O ‘Cruzeirão’, estádio que pertence à municipalidade cruzeirense, já foi palco de grandes eventos. Em seu gramado Garrincha, um dos maiores craques da história do futebol brasileiro e mundial, fez uma de suas ultimas apresentações. Dezenas de edições de campeonatos, eventos religiosos e shows artísticos, ocorridos no passado, arrastaram multidões para o seu interior.
Quem passa e observa a situação atual do estádio, não acredita no que vê. Inaugurado no início da década de 70, ‘O Cruzeirão’ está abandonado. Se dependesse dos moradores do bairro, que dá nome ao estádio, o que ainda resta dele já teria sido demolido. É que, depois de quase dois anos de abandono, o “templo da magia”, a “casa dos apaixonados”, o “palco das grandes alegrias”, virou fonte de preocupação e medo.
Parece piada, mas, ao chegar ao endereço do estádio, a primeira vista que se tem é de uma placa oficial da prefeitura anunciando uma obra de revitalização, modernização e ampliação do Estádio Municipal, ‘O Cruzeirão’. A obra prometida e tão aguardada ainda não chegou. Os serviços de melhoramento foram abandonados, o mato cresceu em seu interior e, nos últimos dois anos, tem servido apenas a drogados e marginais.
Outro ponto que também chama a atenção é a questão da falta limpeza. Segundo os moradores, o estádio tem sido um ambiente proliferador do Aëdes aegypti (mosquito da Dengue), doença que vem se alastrando pela cidade desde fevereiro do ano passado, e já levou algumas pessoas do município, e do próprio bairro, a óbito.
Moradores revoltados
A obra prometida, avaliada em quase R$ 1,5 milhão, iniciou no mês de junho de 2013. Ela tinha prazo de execução de apenas seis meses. Após quase dois anos parada, a construção que seria motivo de alegria e contentamento, passou a ser ameaça para quem mora nas redondezas.
José de Souza Nery, 64 anos, morador do bairro Cruzeirão, sabe bem o que é testemunhar algo tão memorável ser destruido pelo descaso. José Nery, que trabalhou como vigia do Estádio por quase 14 anos, naõ esconde sua revolta:
“E muito triste vermos algo que foi tão visitado e utilizado pelo esporte, e eventos do município, se acabar assim. E para piorar, existe a proliferação de doenças, como a dengue, que tem afetado nosso bairro por conta do abandono. Os próprios agentes da secretária de saúde já retiraram lavas do Aëdes Aegypti. Até a grama plantada está sendo destruida por animais que são criados aqui”, desabafa o morador.
O funcionário público Mardisson Tavares de Almeida, 33, lamenta a situação em que se econtra a obra. “Estamos vivendo com uma situação não condizente aos propósitos de nosso bairro. Nossa referência foi destruída. O Estádio foi destruido. Ficamos comovidos com a situação do único espaço que trazia entretenimento e lazer aos moradores da região”, lamentou o funcionário.
Desportista frustado
O desportista José Furtado Braz, 30, participou de vários campeonatos de futebol de campo no Cruzeirão, e ganhou vários títulos vestindo camisas de times como J. C. Santos, São Cristovão, Juruá Futebol Clube, entre outros. Para Furtado, o maior sonho é ver o Estádio funcionando novamente e poder ainda participar de outros campeonatos.
“Não só eu, como muitos de meus colegas, participei de vários campeonatos neste campo de futebol. Vê-lo destruido assim, é muito triste! Nunca pensei que se transformaria em pasto para criação de animais, e que o abandono traria consequencia para a saúde da população do bairro. Gostaria de ver o Estádio novamente como era, e poder participar de novos campeonatos, trazendo alegrias para nossa sociedade”.
O que diz Prefeito da Cidade
De acordo com a assessora de comunicação da prefeitura de Cruzeiro do Sul, Daiana Maia, a obra está parada há cerca de um ano por falta de repasses do governo federal. Segundo a assessora, a modernização e ampliação do Estádio é uma obra do Ministério do Esporte, que deveria transferir o recurso para os cofres da prefeitura o que, conforme disse, não tem acontecido.
“Essa é uma situação que não acontece somente na construção do estádio ‘O Cruzeirão’, mas em outras obras que necessitam dos recursos do Governo Federal. Não podemos exigir que a empresa dê continuidade a uma construção milionária dessa, sem receber. E a prefeitura não tem verba própria para destinar à obra”, disse Daiana.
De acordo com a assessoria, a prefeitura lamenta a paralisação da reforma. E destaca: “Os investimentos são do Ministério do Esporte, através de uma emenda do senador Sérgio Petecão”. E acrescentou: “Já se sabe que a nível nacional, estadual e municipal, os governos enfrentam diversas dificuldades financeiras. Inúmeros repasses federais foram vetados, inclusive o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O recurso para essa obra não chegou, a empresa não teve condição de continuar o trabalho e paralisou os serviços. A obra só será reiniciada após repasse do recurso por parte do governo federal”, explicou assessora.
A desculpa mudou
Há cerca de um ano, quando o prefeito Vagner Sales (PMDB) foi questionado em razão da paralisação da obra, Neto Vilalino, assessor de gabinete do prefeito, reuniu a imprensa para anunciar que a interrupção seria temporária e em razão de erro na execução da obra. Ele garantiu que o projeto executivo passaria por readequações e, tão logo fossem as mudanças aprovadas pelo órgão concedente, no caso o Ministério dos Esportes, os trabalhos seriam retomados.
Quanto ao erro detectado no projeto da modernização e ampliação do estádio, ao qual se referira Neto Vitalino no início do ano passado, o que segundo ele era o motivo do atraso, Daiana Maia explicou:
“No início das obras foi detectado realmente um problema no projeto. No entanto, ele foi reprogramado pela Associação dos Municípios do Acre (AMAC) e aprovado no final do mês de dezembro, estando pronto para ser executado. O que precisamos é que o recurso seja liberado, para que seja dada a devida continuidade da obra, já que o estádio ‘o Cruzeirão é um espaço tradicional para os desportistas e para a sociedade cruzeirense”, finalizou Daiana.
