Por Wesley Moraes
Às 5h da manhã, o ritmo de trabalho já começa intenso na Dom Porquito, maior agroindústria de suínos da Amazônia. Com a força de trabalho de 387 colaboradores, a empresa processará, em um só dia, 20 toneladas dos mais diversos produtos que atenderão, além do Acre, os estados do Amazonas, Rondônia e Roraima, e outros nove países da África, América do Sul, América Central e Ásia.
Localizada às margens da Rodovia BR-317, a Estrada do Pacífico, em Brasileia, a Dom Porquito foi uma aposta audaciosa do governo do Estado e da iniciativa privada feita em 2012. Pouco mais de uma década depois, o empreendimento é exemplo de sucesso e prosperidade econômica na região do Alto Acre.
Além do frigorífico, o moderno complexo conta com a Unidade de Produção de Leitões (UPL) e a fábrica de ração. Diariamente, a indústria abate de 350 a 380 animais. Entre cortes de carne e embutidos, a Dom Porquito comercializa cerca de 60 itens sob as marcas Mister Pig, Sabbor e Refinatti.
Desde a inauguração, em janeiro de 2016, a empresa segue em franco crescimento e tem planos ousados para o futuro. A expansão dos negócios, aumento do consumo interno, abertura de novos mercados internacionais, apoio governamental e a nova realidade do agronegócio na região impulsionam a Dom Porquito e comprovam que o Acre é uma terra de grandes oportunidades.
Agroindústria é uma das maiores empregadoras do Alto Acre
Há 30 anos, o pai de Elias Ribeiro deixou a cidade de Cascavel, no interior do Paraná, em busca de uma vida melhor para a família. As novas raízes foram fincadas em Brasileia e permanecem no município acreano até os dias atuais.
Elias trabalhou como açougueiro e gerente de supermercado, até que, em 2010, passou a fazer parte do quadro de funcionários do frigorífico Acre Aves. O então encarregado se destacou na função e, três anos depois, recebeu o convite para gerenciar a produção da Dom Porquito. Ele acompanhou todo o processo de instalação da planta industrial e, hoje, é um dos principais responsáveis por assegurar a qualidade de toda a linha de produtos.
Para Elias, o esforço feito pelo pai no passado se concretizou em oportunidades que o profissional soube aproveitar muito bem. “Sou acreano de coração e muito grato por tudo que essa terra me deu. Graças a este trabalho, eu sustento a minha família e consigo manter minha filha na faculdade de Medicina”, disse.
Em 2020, Myrna Santa Rosa concluiu a formação em Medicina Veterinária na Universidade Federal do Acre e, na época, soube que a Dom Porquito estava precisando de uma analista de controle de qualidade. Ela concorreu à vaga e acabou contratada.
“A indústria tem um plano de carreira que nos permite crescer. Eu comecei como analista e, após um ano, fui promovida a coordenadora do controle de qualidade, que é a minha atual função. Estou muito satisfeita com o meu trabalho e tenho orgulho desta empresa. Pretendo ficar aqui por muitos anos”, enfatizou.
Peru, o mercado mais aguardado pela empresa
Mesmo antes de entrar em operação, o grupo já vislumbrava a possibilidade de exportar para o Peru. Apesar de ser a segunda proteína animal mais consumida no país de 34,3 milhões de habitantes, a produção ainda não é autossuficiente para suprir a própria demanda. Cerca de 30% da carne suína é importada do Canadá, Chile, Espanha e Estados Unidos.
Há oito anos, a Dom Porquito iniciou uma verdadeira saga para conseguir a autorização do governo peruano. Naquele período, vários fatores atrapalharam o processo de habilitação do frigorífico. A empresa do Acre enfrentou trâmites extremamente burocráticos, diversas crises políticas, protecionismo de mercado e o fechamento da fronteira terrestre, durante dois anos, por conta da pandemia de covid-19.
No fim de 2022, após cumprir todas as exigências, veio o tão aguardado anúncio. O Ministério de Desenvolvimento Agrário e Irrigação do Peru oficializou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo brasileiro a concessão, por três anos, do Certificado Sanitário Internacional à Dom Porquito.
“Esta foi a habilitação mais difícil e, ao mesmo tempo, a mais aguardada. Temos custos menores ou iguais em relação aos países que atualmente exportam carne suína para o Peru, e a nossa logística, em relação à distância, é muito menor. Tudo isso faz o nosso produto chegar muito competitivo ao mercado”, explicou Paulo Santoyo, diretor comercial do grupo.
Primeira carga com produtos da Dom Porquito já está em território peruano
Único frigorífico nacional credenciado a vender carne suína ao Peru, mais de 20 empresas do país andino já demonstraram interesse em fazer negócio com a Dom Porquito. Na quarta-feira, 12, a primeira carga com produtos acreanos cruzou a fronteira, marcando uma nova fase de crescimento da agroindústria.
“Exportamos 27 toneladas de cortes suínos para uma empresa importadora de Lima. Nosso caminhão acabou de ser inspecionado em Iñapari, na fronteira, e a nossa estimativa é que esses produtos cheguem amanhã na capital do Peru. Vamos enviar duas cargas por semana, com a expectativa de aumentarmos para três dentro de pouco tempo”, pontua Santoyo.
A Dom Porquito já recebeu a visita de diversos empresários peruanos das cidades de Arequipa, Cusco, Porto Maldonado e Tacna. O interesse pela carne suína do Acre fará com que o processamento diário da agroindústria aumente de 350 para 600 animais.
Exportação da carne suína acreana é comemorada pelo governo do Estado
Nesta quinta-feira, 13, o governador Gladson Cameli parabenizou a Dom Porquito pela conquista durante videoconferência com os sócios da empresa e secretários de Estado. De acordo com o gestor, este é o começo de uma forte parceria comercial entre Brasil e Peru.
“Conheço o trabalho sério da Dom Porquito e agradeço por eles acreditarem no nosso estado. Esta empresa emprega centenas de pessoas no Alto Acre e merece todo o apoio do governo. Não tenho dúvidas que esta será a primeira de muitas cargas que entrarão no país vizinho e aposto no sucesso dessa relação bilateral para fortalecimento da economia e geração de emprego e renda”, ressaltou o governante.
Por meio da Agência de Negócios do Acre (Anac), o governo estadual detém participação societária na agroindústria. “A Anac investiu neste projeto desde o início e ficamos felizes com esta importante parceria e estamos à disposição para trabalharmos para que a empresa cresça cada vez mais”, opinou Waleska Bezerra, presidente do órgão.
Para o secretário de Indústria, Ciência e Tecnologia, Assurbanipal Mesquita, a entrada de um novo mercado consumidor fortalecerá a suinocultura acreana. “Isso aumentará a demanda por animais e nós, como governo, temos o desafio de trabalhar na criação de políticas públicas para aumentar a produção interna de leitões. Essa é uma prioridade nossa e será fundamental para criarmos mais empregos no campo”, salientou.
Presente à reunião, o presidente da Assembleia Legislativa do Acre, deputado Luiz Gonzaga, destacou o esforço governamental no estímulo ao agronegócio. “O incentivo dado pelo Estado à produção de grãos facilitou muito a cadeia da suinocultura. Já estive no Ministério da Agricultura, em Brasília, buscando o apoio para que possamos expandir ainda mais a criação de porcos na nossa região”, declarou.
Empenho da administração do governador Gladson Cameli foi fundamental no processo de habilitação
Nos últimos anos, importantes investimentos públicos foram consolidados pelo governo estadual em prol do agronegócio. Um dos mais significativos diz respeito à reestruturação e contratação de novos servidores para o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf-AC).
Segundo o presidente do órgão, José Francisco Thun, o fortalecimento do Idaf-AC foi fundamental para conquistas históricas, como foi o caso da certificação internacional do Acre como área livre de febre aftosa sem vacinação e, recentemente, a habilitação para exportação da carne suína para o Peru.
“Tudo isso só está sendo possível graças ao trabalho sério que vem sendo feito pelo Idaf com os nossos produtores, as empresas e instituições parceiras. O governo não vem medindo esforços para garantir a sanidade dos nossos animais e, consequentemente, o desenvolvimento do estado”, argumentou.
O apoio dado pelo Estado tem animado, dado mais confiança e dignidade ao homem do campo. A desburocratização na emissão de licenciamentos ambientais, abertura e manutenção de ramais, incentivo à produção agrícola e apoio mecanizado e técnico são compromissos da atual gestão para melhorar a vida da população rural e alavancar a economia.
“O governador Gladson Cameli abriu as portas do nosso estado para o agronegócio e o governo tem apoiado o homem do campo. Nestes últimos quatro anos estamos presenciando um grande salto na produção rural e a expectativa é melhorar ainda mais. Não tenho dúvidas que o futuro do Acre será de muito progresso e geração de emprego e renda”, salientou o gestor do Idaf.
Dom Porquito planeja faturar R$ 1 bilhão nos próximos anos
A empresa enxerga um horizonte cheio de oportunidades pela frente. Com taxa anual de 20% de crescimento, a Dom Porquito poderá se tornar a primeira indústria acreana a alcançar R$ 1 bilhão em faturamento. Segundo Alder Cruz, diretor-presidente do empreendimento, a meta deverá ser alcançada em até seis anos.
“Esperamos triplicar o nosso volume de venda nos próximos dois anos. A indústria está preparada para a demanda crescente que está surgindo, como é o caso da exportação para o Peru e novos países do Caribe. Essa possibilidade de batermos o faturamento bilionário é totalmente real e o produtor acreano é nosso parceiro e peça-chave neste processo”, comentou.
A abertura do mercado peruano, novos processos de habilitação em andamento, como é o caso da República Dominicana, e expansão da própria demanda nacional estão entre os principais fatores que explicam o otimismo da empresa.
“Este, felizmente, é um caminho sem volta. O crescimento das relações comerciais com os países vizinhos, assim como a produção de grãos no Acre é uma realidade e são importantes fatores para baratear os nossos custos de produção e aumentar a competitividade”, pontuou
Suínos trouxeram prosperidade ao campo
É na região do Ramal da Estrada Velha, zona rural de Epitaciolândia, onde estão concentrados os 55 criadores de suínos que trabalham no sistema de integração com a Dom Porquito. Nesta cadeia produtiva, a empresa é responsável pelo fornecimento dos leitões e ração, além de assistência técnica.
Já o criador tem a missão de dar alojamento aos animais, alimentá-los e limpar a granja todos os dias, durante três meses. Organizados por meio de uma cooperativa, as pequenas, médias e grandes propriedades comportam de 125 a 3.600 animais.
No início, alguns produtores duvidaram do projeto e, por receio, preferiram não aderir à suinocultura. Mas a professora Ivania Andrade percebeu que não tinha nada a perder com a oportunidade batendo à sua porta e decidiu acreditar na possibilidade de um futuro promissor.
Quase dez anos depois, ela só tem a comemorar. A criação inicial de 125 porcos saltou para mil animais. Para suportar a nova quantidade de suínos, Ivania precisou aumentar a capacidade da granja. E para dar a devida atenção ao negócio, a professora resolveu deixar a sala de aula após 14 anos de serviços prestados à comunidade rural onde mora. Financeiramente, a criadora viu seu rendimento mensal crescer quatro vezes mais em relação à antiga profissão.
“Sabemos que todo começo é difícil, mas estou muito feliz e valeu a pena acreditar. Se tivesse que começar do zero eu faria tudo de novo. Este ano, estou com planos de ampliar o meu galpão e aumentar a criação em 50%”, revela.
Maria Aparecida Pereira também viu as condições financeiras da família melhorarem após a chegada dos suínos. Anteriormente, a pequena propriedade era utilizada, exclusivamente, para o plantio de subsistência. A renda era escassa e, muitas vezes, o almoço e jantar, principais refeições do dia, eram feitos sem o acompanhamento de alguma proteína.
Todas as dificuldades fazem parte do passado. Com o dinheiro da criação de 300 animais, Maria conseguiu construir uma nova casa, comprou carro e moto, contratou internet e a geladeira está sempre cheia. “Antes dos suínos, a gente tinha uma vida pesada, trabalhando no roçado. Depois da granja, o trabalho está mais maneiro. Hoje, graças a Deus, as coisas não faltam mais dentro de casa e a nossa vida mudou bastante”, confirmou.
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