Artista diz receber encomendas de grifes de Tóquio, Nova Yorque e Londres.
Cada bolsa demora de três a cinco dias para ficar pronta.
Peças recortadas de madeira aplicadas de maneira perfeita dão forma, cores e sofisticação a bolsas produzidas pelo artista Maqueson Pereira da Silva, de 54 anos, em Cruzeiro do Sul (AC), por meio da técnica da marchetaria. No estilo clutch, um modelo de mão, as bolsas exclusivas são verdadeiras obras de arte e chegam a ser vendidas por até R$ 5 mil, em Paris, segundo o criador. O acessório já foi apresentado em desfiles como a São Paulo Fashion Week e em uma mostra de marchetaria realizada na França, em janeiro deste ano.
O sucesso foi tanto que o artista recebe encomendas de grifes de Paris, Tóquio, Nova Yorque e Londres. Nestes locais, segundo Pereira, os produtos chegam a ser vendidos por até R$ 5 mil. Na marchetaria em Cruzeiro do Sul, o preço das bolsas em madeira varia de R$ 600 a R$ 800.
“São clientes diferenciados, eles não podem baixar o preço, é daquele nível para cima. Esse trabalho com madeira não é fácil, é muito mais complicado que um quadro. Pelo designer e pela construção, pois tem que cavar a madeira”, destaca o artista.
De acordo com Pereira, as grifes internacionais tomaram conhecimento das obras realizadas por ele através de trabalhos feitos para as Forças Armadas e outras instituições. “Sempre recebo encomendas de peças para o Ministério da Defesa, gabinete civil da Presidente da República, Supremo Tribunal Federal [STF], Marinha e Aeronáutica. Acredito que essas peças sejam para presentear autoridades e instituições”, diz.
Pereira admite que se sente lisonjeado, pois suas peças em marchetaria, como quadros, já presentearam pessoas ilustres como o presidente da França, Papa Bento XVI, Papa Francisco, Presidente Dilma Rouseff, presidente da Alemanha, ex-presidente Bush, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros.
Fabricação
O artista explica que leva de três a cinco dias na produção de cada bolsa. Atualmente, trabalham junto com o ele, na Oficina de Marchetaria, a esposa e outras 23 pessoas. Para a fabricação das diversas peças entre bolsas, caixas, porta-joias, chaveiros e quadros são utilizadas 156 espécies de árvores, sendo necessário a importação de alguns tipos da Alemanha. Todas as cores utilizadas na arte são naturais da madeira, apenas a cor azul é produzida através de um efeito químico, fazendo a árvore crescer com esta tonalidade.
“No pós-guerra, os alemães descobriram que as balas perdidas e os estilhaços de bombas que atingiam as árvores faziam com que a madeira fermentasse e atingisse a cor azulada. Como eles são muito bons, pegaram a fórmula química, fizeram um coquetel e injetam na árvore, então, elas já crescem azul”, explicou Pereira.
O homem que nasceu no seringal Flora, no município de Porto Walter (AC), distante 574 quilômetros da capital, relata que se transformou em um artista, ao unir o ofício da marchetaria com o olhar apaixonante pela flora e fauna da Amazônia, através dos primeiros ensinamentos recebidos no seminário com os padres alemães.
“Existem coisas que parecem que ainda não aconteceram, não encontro tempo para ter algum tipo de vaidade, a única coisa que eu quero é passar o que tenho e beneficiar outras pessoas, isso é o que tenho de maior. Quero ensinar as outras pessoas, que depois podem vir a ser até melhores do que eu. Meu prazer é oferecer oportunidades”, destacou Pereira.
Reflorestamento e oficina em Seringal onde nasceu
Com um olhar além e em busca de oferecer novas oportunidades, Maqueson Pereira tem pretensão de criar uma oficina no seringal Flora, localizado no município de Porto Walter, local onde nasceu. Atualmente, na localidade residem 80 famílias.
“Foi nesse lugar que cacei pela primeira vez, aprendi a nadar. Quando lembro daquele igarapé lindo, hoje está tudo acabado, por isso pensei no projeto de reflorestamento e na criação da oficina. Quero utilizar as árvores que foram derrubadas para ensinar os moradores”.
A intenção do artista com isso é qualificar os jovens para que quando saiam do seringal possam ter alguma qualificação. “Comecei a articular e procurei as autoridades competentes, e a escola é para quando as pessoas migrarem para cidade terem uma oportunidade de renda e de sobreviver. A borracha acabou lá, e elas não tiveram nenhuma oportunidade e nenhuma qualificação profissional”, lamenta.
Sobre o artista
Maqueson Pereira da Silva nasceu em 30 de agosto de 1958, no Seringal Flora, no município de Porto Walter (AC). Enquanto morou no seringal, aprendeu a ler com o avô, que era cego, cortou seringa junto com o pai e fazia barcos, o que ajudou na função hoje exercida. Em 1973, saiu do seringal para a área urbana de Porto Walter, onde ingressou no seminário com os padres e recebeu os primeiros estudos formais, já aos 15 anos.
Aos 18 anos, Pereira saiu do Acre como seminarista para estudar no Instituto Liebermanm, na cidade de Salete, em Santa Catarina. Em 1977, começou os primeiros trabalhos em marchetaria com a orientação de Guilherme Schüller, padre alemão, colocando em ação nos primeiros trabalhos temas sacros, com a criação de quadros como o de Nossa Senhora Aparecida, sendo o primeiro feito por ele.
Em 1986, o artista retornou a Cruzeiro do Sul e começou a estudar botânica, psicologia da música com padre Herbert Douteil. Após quatro anos, foi para Alemanha com a ajuda do padre, onde fez especialização, e estudou também na Itália e Suíça. Quando retornou ao Acre, Pereira começou a incluir e trabalhar temas da flora e da fauna amazônica em sua artes. Em 2001, instalou sua oficina em Cruzeiro do Sul onde realiza os trabalhos atualmente. Pereira é casado com Linda e é pai de três filhas.