O diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU), Daniel Balaban, afirmou que a redução do desperdício de alimentos pode ajudar a acabar com a insegurança alimentar no Brasil. Segundo Balaban, atualmente 14 milhões de brasileiros vivem em situação de incerteza, sem saber se terão comida suficiente todos os dias.
Para ele, o desperdício pode ser reduzido com mudanças culturais e de hábitos cotidianos. “Tem muita família pobre que também desperdiça alimentos. Acabam comprando mais do que precisam, cozinhando mais do que vão consumir”, afirmou.
Além do desperdício doméstico, o diretor do PMA destacou o impacto das perdas causadas pelo transporte inadequado de alimentos. Ele destacou que, no Brasil, a maioria dos alimentos é transportada por rodovias. “Se não tiverem um bom acondicionamento, acabam chegando ao ponto final já estragados. Então, perde-se muito. De cada grupo de alimentos, um terço é jogado fora.”
“Feinho e tortinho também são saborosos”
O empresário Arthur Arakaki disse que viu no combate ao desperdício uma oportunidade de empreendimento. Junto com um sócio, criou uma pequena empresa de entrega de frutas e legumes com imperfeições, mas em bom estado para o consumo. “É aquilo que o varejista grande, por exemplo, não aceita porque não está nos padrões estéticos que ele acha que tem que comprar.”
As cestas com os vegetais são montadas a partir da disponibilidade dos 35 produtores cadastrados, trazendo uma seleção nova a cada semana. Como os produtos que compõem a cesta não são fixos, muitas vezes, os clientes recebem alimentos que nem sempre estão disponíveis nos supermercados. “Com a introdução desses itens diferentes na casa das pessoas, elas são obrigadas a procurar uma receita. Estimula também. É engraçado, porque as pessoas gostam”, disse Arakaki.
Arakaki e o sócio já contam com quase 1,5 mil assinantes que recebem caixas com peso que varia de 3 a 10 quilos. A empresa atende em toda a zona sul e parte da zona oeste da capital paulista.
Segundo Arakaki, o serviço atende também a uma demanda dos produtores que tinham dificuldades para escoar os alimentos com pequenas imperfeições ou fora do padrão estético. “O nosso principal propósito é o combate ao desperdício e, além disso, conscientizar as pessoas de que o feinho e o tortinho também são saborosos.”
Mais da metade dos brasileiros desperdiça
Pesquisa divulgada pela Unilever em julho mostrou que 61% dos brasileiros descartam, semanalmente, um ou dois alimentos em perfeito estado. Quase metade (49%) dos entrevistados assumiram fazer isso diariamente.
Quem compra e desperdiça assume que o grande problema é a falta de inspiração (81%). Muitos olham para a geladeira, mas não sabem o que cozinhar ou comer (78%).
Outros questões apontadãs na pesquisa são a compra de comida além do necessário (54%), pais que adquirem opções extras para satisfazer o gosto de diferentes membros da família (37%) e compra de alimentos diferentes do habitual para testar, que acabam não agradando (31%).
Os tipos de alimentos mais desperdiçados são os perecíveis, como saladas (74%), vegetais (73%) e frutas (73%). Na hora de decidir se joga fora, o brasileiro leva em conta cheiro e aparência (85%) e prazo de validade expirado (83%).
A pesquisa, feita em escala global, ouviu 4 mil pessoas – dois norte-americanos, mil brasileiros e mil argentinos, com idade entre 18 e 64 anos, no período de agosto a setembro de 2017.
Por Daniel Mello – Repórter da Agência Brasil São Paulo
Fonte agenciabrasil.ebc.com.br