Por Jairo Carioca
Começa a dar resultados positivos a Missão Comercial de Empresários Brasileiros na Expoalimentaria 2023, maior feira de alimentos da América Latina que ocorreu em Lima, no Peru, de 27 a 30 de setembro. Um dos negócios prospectados com apoio do governo do Estado pela indústria acreana Nutrack – a exportação de ração para peixes ao setor produtivo no sul do Peru – teve a primeira carga confirmada na última terça-feira, 17, com a operacionalização do funding para aquisição das primeiras 30 toneladas de ração.
A carga tem como endereço produtores de truta salmonada, na cidade de Puno, na região do Lago Titicaca. A previsão é que a primeira carreta com 1.200 sacas de ração saia de Rio Branco em 15 dias. Segundo o empresário Alejandro Salinas, da Perbra Holding – empresa de exportação e importação – a expectativa é que em seis meses 1.200 t/mês de ração estejam sendo comercializadas na rota Acre-Puno.
“Prospectamos negócios com toda cadeia produtiva de truta salmonada, que envolve 900 produtores. A partir dessa relação comercial, estudamos ampliar esse mercado para exportação de ração para outra espécie produzida na região: o peixe rei”, garantiu Salinas.
O transporte será feito pelo Corredor Interoceânico Amazônia Ocidental (BR-317 – Via Assis Brasil). Para o titular da Secretaria de Estado de Indústria, Ciência e Tecnologia (Seict), Assurbanipal Mesquita, a negociação carimba dois objetivos da política exterior que vem sendo trabalhada pelo governo do Acre em parceria com o Fórum de Inovação e Desenvolvimento: a ampliação das exportações de produtos acreanos para a região andina e o fortalecimento do Corredor Interoceânico.
“O início dessa negociação aconteceu com a recepção dada à comitiva peruana durante a Expoacre. Depois foram feitas visitas técnicas à região de Puno por empresários acreanos, e o fechamento da carga a ser exportada se deu durante a Expoalimentaria, contou Mesquita .
Ele ressaltou que “essa transação envolve a indústria Nutrak. Outras prospecções também estão com negociações avançadas e devem impulsionar a balança comercial dos próximos anos”.
Estudos da Agência de Negócios do Acre (Anac) mostram que o volume de exportações para os países andinos vem aumentando desde 2019. O total de cargas enviadas do Acre ao Peru representa investimentos acima de R$ 128 milhões entre 2019 e 2023. Os dados são do Sistema de Comércio Exterior do Ministério da Economia (Secex-Comextat).
Com o portifólio de novos produtos, a Anac projeta recordes de superavit na balança comercial nos próximos cinco anos. A carne suína, que passou a ser enviada este ano para o Peru, vai impactar positivamente na economia. Em seis meses pesquisados, registra-se 875 mil dólares em negócios que passaram pela fronteira.
“Assim como a carne suína, a ampliação de mercado na exportação de ração para peixe, que além de Iñapari vai chegar ao sul do Peru por meio da Nutrak, vai impactar positivamente na balança comercial, compensando quedas em outros setores, como o madeireiro, analisou a presidente da Anac, Waleska Bezerra.
Ela destacou que “as projeções são otimistas, mostram que as políticas de incentivos e as ações voltadas ao comércio exterior feitas pelo governo do Acre estão no rumo certo”.
Os dados apresentados pela Anac correspondem com os estudos feitos pela Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IRSSA Sur) apresentados na Missão Comercial Brasileira de Empresários durante visita ao Porto de Chancay, no final de setembro.
De acordo a IRSSA Sur, as exportações oriundas dos estados do Acre e de Rondônia pelo corredor interoceânico Amazônia Ocidental cresceram 34% em 2022. Os produtos que ingressaram no Peru tiveram volume de 51,5 mil dólares no período analisado. Soja, milho, castanha do Pará, carne suína, representam 98% de participação total nas exportações entre Acre e Peru.
Indústria acreana amplia seu leque de produtos de exportação chegando ao Sul do Peru
A Nutrak é pioneira na exportação de produto animal para o Peru. “Foi quem abriu a fronteira com envio de ração para peixes em Iñapari”, lembrou o empresário João Paulo Martins, sócio da empresa no Acre.
A indústria transforma matéria-prima produzida em suas propriedades. Em 2002, Rayolando Costa Oliveira foi um dos primeiros pecuaristas do Acre a trabalhar no reaproveitamento de áreas dedicadas à pecuária para a produção de soja e milho.
“Ano após ano, dentro do que é regulamentado ambientalmente, fomos aumentando a nossa produção de soja e milho. Hoje produzimos 100 mil sacas de milho e 60 mil sacas de soja por ano”, disse Oliveira.
Com a ampliação do mercado de exportação de ração para o Peru, será necessário comprar soja de Rondônia. A Nutrak também é responsável pela distribuição de ração animal para peixe, cachorro e gato nos estados do Acre, Rondônia e nas cidades de Manaus e Roraima, na Região Norte.
“Trabalhamos de olho no mercado andino, mas também, com política de expansão no Brasil, estamos fechando acordos em Cuiabá. Hoje toda a soja e milho produzidos em nossa propriedade atende exclusivamente a fábrica de ração”, revelou Oliveira.
Uma fórmula especial com a marca acreana – O diferencial na prospecção de negócios na rota Acre-Puno foi a necessidade de desenvolver uma nova fórmula de ração específica para truta salmonada, uma espécie de peixe criada em águas frias de regiões montanhosas. O desafio era desenvolver uma ração que levasse em conta o comportamento dos animais até a temperatura e o nível de oxigenação da água.
“Levamos em visitas técnicas feitas à região de Puno várias fórmulas de ração para peixes. Tinha que combinar uma série de variáveis, determinar os melhores horários para dar os alimentos nos viveiros e a quantidade ideal, em busca de qualidade e menor desperdício”, comentou João Paulo Martins.
Com a mediação da empresa Perbra Holding, a Nutrak contratou um biólogo especialista em psicultura peruana para refinar o modelo de crescimento em viveiros de piscicultura, onde o processo de entrega de alimentos é essencial. Em Puno, as trutas salmonadas são criadas no lago Titicaca.
Cesar Salvador Medrano Moreno explicou que a espécie analisada é inquieta e fica mais ativa ao se alimentar, necessitando de mais oxigênio para poder digerir. O segredo para o equilíbrio ambiental entre os níveis de oxigênio e a quantidade de ração lançada nos tanques, o biólogo e a Nutrak não revelam.
O empresário João Paulo Martins garante que o produto que será enviado a Puno, assim como as demais rações produzidas na indústria, tem qualidade. “Nossa ração vai chegar com menor preço no mercado peruano, diminuindo custos ao produtor. A segurança alimentar vai tornar o manejo mais sustentável”, revelou Martins.
A segurança alimentar vai percorrer 760 quilômetros do Acre até Puno
Na aposta de expansão de seus horizontes comerciais, saindo do Distrito Industrial de Rio Branco, na BR-364, a ração com marca acreana vai percorrer cerca de 760 km até chegar na região de Puno, às margens do Lago Titicaca.
Os empresários João Paulo Martins e Raiolano Oliveira sabem que o sucesso no plano de engorda das trutas vai demandar novos pedidos de produção. Os mercados internacionais, incluindo os asiáticos, querem trutas mais pesadas. A indústria reconhece o esforço do governo do Acre no desenvolvimento de políticas de comércio exterior, que têm um objetivo maior: expandir soluções de mercado para outros países.
“O olhar com integração” defendido pela Seict e pela Anac, coloca o estado do Acre sob uma nova inserção regional e internacional. “A nossa participação com apoio do governador Gladson Cameli e da Federação das Indústrias na Expoalimentária foi fundamental para a abertura de novos negócios”, disse Raiolando Oliveira.
Mais mão de obra especializada – A partir do aumento da demanda de exportação, a Nutrak mensura a diminuição de sua capacidade ociosa. A empresa produz 50 t/dia de ração. A nova rota vai implementar mais 30% da capacidade total de produção.
“Em seis meses, prospectamos produzir 1.200 t/mês. Isso certamente vai exigir a contratação de mais mão de obra, geração de mais empregos. Atualmente, geramos 50 empregos diretos”, acrescentou João Paulo Martins.