Cruzeiro do Sul, AC, 24 de novembro de 2024 09:52

César Messias: o PSB é o divisor político no Brasil

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(Foto:  Eugenio Novaes)
(Foto: Eugenio Novaes)

O deputado federal César Messias (PSB) concedeu entrevista ao Direto do Planalto em que fala de sua carreira política e de sua atuação como parlamentar. O cruzeirense tem uma vida política de muito sucesso. Elegeu-se três vezes deputado estadual, foi prefeito de Cruzeiro do Sul, vice-governador por dois mandatos e, agora, chegou ao Congresso Nacional. Com estilo meio mineiro, que trabalha em silêncio, nesses três meses de mandato Messias se apresenta como um político de postura ética ao defender grandes temas para o bem do Brasil.

Gosta de estudar com profundidade os assuntos que estão em pauta na Câmara Federal para não cometer erros. Para ele, as decisões devem tomadas pela razão e não pela a emoção. De fala mansa vai ganhando respeito e admiração entre seus pares de todo o país. Nessa conversa César Messias disse que o PSB é o divisor da política brasileira.

O que espera desse novo desafio?

A sensação política é a mesma de quem recebe um mandato dado pelo povo. Nesse desafio vamos enfrentar com seriedade e humildade e acima de tudo, ouvindo o que a população quer. É um cenário diferente em que iremos discutir a política nacional. É uma experiência nova para mim, não no legislativo porque já fui deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Acre, então tenho uma boa noção do que é o parlamento. Mas de qualquer maneira é uma coisa nova. A adaptação foi boa e com tempo necessário a gente vai aprender os trâmites e tocar o barco para frente, ouvindo sempre a sociedade organizada nas mudanças que devem ter, e nas questões polêmicas aqui nesta casa tomaremos decisões sempre pela a razão não pela a emoção.

O senhor é favor do fim da reeleição?

Eu acho que a Câmara não deva fazer somente a reforma política. Precisamos fazer a reforma trabalhista, a reforma tributária, a própria reforma do nosso Regimento Interno que quando um partido quer que alguma coisa não ande, o regimento faz por onde não andar. Temos que fazer grandes reformas no Brasil, tornar um parlamento ágil, um parlamento simples. Quando a gente põe uma matéria para votar, não é aceitável, por exemplo, que uma matéria como a terceirização com mais 12 milhões de terceirizados no Brasil não tenha sido aprovada ainda.

Não aceitável também que o regimento que temos hoje na Casa aprove-se um texto da matéria como ela está e depois a gente tem que passar dois ou três meses votando os destaques para poder aperfeiçoar a matéria. Acho que se a gente tivesse um regimento ágil, poderíamos aperfeiçoar muito essa matéria dentro da própria comissão, discutindo lá dentro e quando for para o plenário fazer só acabamento. Então isso trás desgaste para o parlamento e para o parlamentar.

Na reforma política que estamos discutindo hoje, os cincos pontos básicos que são a não reeleição para presidente, governadores e prefeitos e um mandato de quatro para cinco anos; o não financiamento de empresas privadas na campanha política; o orçamento misto que será de pessoas físicas e financiamento público e a não coligação em termos proporcionais que é um avanço grande no fortalecimento dos partidos. Temos um seguimento forte aqui na Câmara que discute a questão do distritão que se elegeriam os mais votados. Sou totalmente a favor do fim da reeleição para cargos do executivo e da ampliação do mandato para cinco anos e do fim do financiamento de empresas privadas para campanhas políticas. Acho boa essa idéia do financiamento misto, levando em consideração que a pessoa física tenha limite de doações. Dessa forma teremos uma eleição mais barata possível.

A redução da maioridade penal é o melhor para o Brasil?

Essa é uma matéria muito polêmica. Na campanha eleitoral eu era totalmente a favor da redução da maioridade penal. De lá para cá aprofundei o estudo sobre o assunto. Estive na CNBB, ouvi diversos pastores, ouvir o meu filho que tem 16 anos, ouvir grupos de jovens, estou ouvindo o meu partido e hoje ainda estou confuso. Acho que temos de ouvir mais, estou lendo bastante sobre o tema. Um dado importantíssimo que chegou a mim é que apenas 1% dos homicídios praticados no Brasil envolve pessoas com menos de 18 anos de idade. É um dado para mim importante. Como disse antes vou usar a razão e a não emoção para decidir alguma coisa. É essa a razão que estou buscando nesse momento para poder votar e lá na frente não venha me senti culpado por ter dado um voto errado.

Se você fizer uma pesquisa temos um número de 90% da sociedade brasileira que é a favor da redução da maioridade penal. Por isso estou me aprofundando no assunto, mas se Deus quiser Ele irá me orientar para um voto sereno para o que tem de ser o certo.

A terceirização pode melhorar a vida do trabalhador brasileiro?

Criaram uma polêmica muita grande sobre a terceirização. A matéria que foi apreciada, o presidente da Câmara colocou primeiro em votação a questão da urgência, que eu fui a favor, depois ele colocou em votação para retirar a matéria de pauta, eu fui contra, porque é uma matéria que está há 11 anos na Câmara. Ele votou o texto do jeito que veio do relator, se a gente rejeita o texto a matéria acaba. Então nós tínhamos que votar o texto e agora votar os destaques da matéria que tem 27 pontos para serem votados e foi votado apenas um. Na hora que se vai votar os destaques nós vamos aperfeiçoar a lei. Sou totalmente a favor da terceirização. Nós temos que discutir, chegar a um termo para se saber o que  é atividade meio e atividade fim. Há uma discordância muito grande nesse sentido: profissão médica é fim? Biomédicos é fim? Engenheiros é fim? Não, não é atividade fim.

Ai eu pergunto: todos os estados brasileiros hoje compram serviços, o meu estado compra serviço. O hospital da minha cidade Cruzeiro do Sul compra serviço de laboratório de uma empresa que contrata médicos e vende o serviço. Grandes projetos que se faz no estado não são engenheiros ou arquitetos do estado que fazem o serviço. O estado licita o serviço de uma empresa de engenharia ou arquitetura. Não deixa de ser uma terceirização. Temos que definir, ser mais claro sobre o que é atividade meio e atividade fim, mas não amarrar de uma maneira tal que venha engessar o Brasil.

O senhor acredita na CPI do Petrolão?

Vou exemplificar esse caso com a Fórmula 1. Quando a CPI da Petrobras colocou o carro na pista o carro do Ministério Público e da Polícia Federal já estava na metade da corrida. A CPI não vai alcançar nunca o que já foi investigado pelos os órgãos federais, eles estão lá na frente. Toda CPI é uma peça política, é bom para mostrar, mas em termos de contribuição para a investigação, a Polícia Federal e a justiça estão numa dianteira muito grande.

Tem alguma solução para a crise política?

O Brasil não vive só uma crise política. O Brasil vive uma crise financeira e ética também, e acima de tudo, o governo da presidente Dilma desgastado, sem credibilidade da opinião pública. Isso é muito ruim para o Brasil. Quando a gente tem a crise política, crise financeira, mas há um governo bem avaliado, onde a população acredita, há um conforto na sociedade. Acho que esta Casa tem que ter o amadurecimento suficiente para aprovar as leis que a sociedade está pedindo, aprovar as mudanças que as manifestações estão pedindo e amadurecer mais o entendimento entre o poder legislativo e o executivo. Nós não podemos ter partidos que defendam “me dá um ministério que eu voto nisso”. Isso é arcaico, ultrapassado, a república tem que ter uma grande mudança para o bem do Brasil.

O senhor acha que o PT deve continuar no comando do país?

O PT é um grande partido. Não podemos deixar de reconhecer os avanços que o partido trouxe para o Brasil, agora é uma sigla que nacionalmente está muito desgastada. Digo sempre que a lua de mel entre o político com o partido e a sociedade é do dia da eleição até o dia que ele assume. O governo trás desgaste e o PT passou nesses últimos tempos sofrendo um grande massacre da mídia nacional com os escândalos de corrupção. É um partido grande que trouxe muitos avanços para o trabalhador, programas sociais, tirou milhões de brasileiros da linha da miséria e fez com que classe média subisse.

O PSB vai lançar candidato à prefeitura de Rio Branco?

No Acre nós temos a Frente Popular que venceu cinco vezes as eleições no Estado. Temos hoje à frente da prefeitura o Marcus Alexandre, cuja Frente Popular venceu três eleições seguidas para a prefeitura. Eu digo sempre que a hora que um partido tem para crescer é nas eleições municipais, é uma eleição paroquial e aonde for possível nós vamos buscar entendimento com a Frente Popular. Fui eleito deputado federal pela Frente Popular e, eu disse que não poderia ser candidato a deputado se não fosse pela legenda da Frente. Fui durante oito anos vice-governador de um projeto político. Então nós vamos, o PSB vai está nas eleições municipais nos 22 municípios do Estado. A onde for possível nós vamos buscar o entendimento com a Frente Popular, nós vamos buscar porque é um projeto que está dando certo, é um projeto que é bom para o Acre e para os acreanos.

A prefeitura de Cruzeiro do Sul merece hoje um candidato que olhe o município de maneira diferente, digo sempre que um político se propõe ser um prefeito ou governador, tem que ter um olhar de águia de cima para baixo para que ele consiga ver o município todo. Você não pode ter um prefeito que foque apenas alguns setores da sociedade. Eu saí da prefeitura de Cruzeiro do Sul em 2004 e de lá para cá não se construiu nenhuma creche, não se construiu um centro de convivência do idoso, não teve ação nenhuma na área social do município, o prefeito tem que está olhando tudo. A Frente Popular precisa ter o amadurecimento de procurar o perfil de um candidato que olhe a cidade como um todo, que saia do palanque quando encerrar a eleição, que procure o entendimento com todos: governo, senadores, bancada federal, vereadores, sindicatos, comerciantes para poder fazer uma boa gestão. Não me passa pela cabeça nesse momento ser candidato a prefeito de Cruzeiro do Sul. Fui eleito deputado federal e quero desempenhar esse mandato até o fim.

Como é ser aliado do PT no Acre e adversário no plano nacional?

Digo sempre que o PT do Acre é um PT diferente. Nós temos grandes lideranças dentro do PT como o Tião Viana que é nosso governador, o ex-governador Binho Marques, o senador Jorge Viana, Marcus Alexandre, Nilson Mourão, pessoas como Sibá Machado, Leo de Brito e Angelim que foi prefeito oito anos, uma pessoa extraordinária. Na Frente Popular o PSB é respeitado. Disse isso numa reunião com os deputados eleitos, que o PSB há muito tempo faz parte da Frente Popular, que a convivência com o PT do Acre é a do diálogo, de discussão que venha a atender os anseios da população do nosso Estado.

Já em nível nacional não, temos grandes problemas. Fomos da base do presidente Lula e fomos da base da presidente Dilma na eleição passada. Depois o partido decidiu caminhar com suas próprias pernas lançando o saudoso e querido Eduardo Campos para presidente. O partido hoje tomou uma decisão de ser independente. Nós não somos oposição radical ligada ao DEM e nem ao PSDB, mas também não somos situação ligados ao PT e aos partidos que fazem a base da presidente. Nós estamos numa situação onde o PSB pode ser um divisor de água em nível nacional ajudando no combate a corrupção, as mazelas de todo o Brasil e também estendendo a mão na hora necessária para se fazer as reformas que a sociedade brasileira quer.

O Acre evoluiu nesses anos administrados pelo PT?

Sem sombra de dúvidas. A revolução que tivemos no Acre foi extraordinária em todos os setores. Se fala muito da saúde do Acre e vou dá um exemplo: estou em Brasília e levei minha sobrinha que tem um plano de saúde Bradesco que é um dos melhores do Brasil e fomos a um hospital aqui em Brasília. Fomos bem recebidos mas passamos três horas e meia para sermos atendidos, por um plano de saúde particular. No Acre, no atendimento público isso não acontece de jeito nenhum. Temos uma saúde pública no Acre uma das melhores do Brasil sem sombra de dúvidas. Avançamos muito também na questão da agricultura.

O governador Tião Viana está agora focado em produzir. É um novo momento, é a cadeira do peixe, a cadeira do frango, é suíno, é a produção de queijo, de leite, tudo isso está surgindo no Acre. Estamos colhendo aquilo que plantamos. O governo Jorge Viana fez uma transformação de levantar a auto-estima do povo acreano, melhorou o salário do funcionário público, reorganizou o serviço público do nosso Estado e faz as grandes obras como pontes, eletrificação rural, recuperação de ramais etc. O Binho olhou muito a questão do lado social. Melhorou as nossas escolas, levou o ensino aonde o governo não chegava. Foram programas extraordinários. Agora chegou o Tião no momento da produção, de buscar a independência financeira do Estado. O Acre teve um avanço extraordinário com os governos do PT e da Frente Popular.

Como você ver um novo Acre?

Eu vejo um Acre que produz sem precisar importar nada. Um Acre que produz milho, que produz frango. Vejo um Acre que busca saídas, sempre mantendo o equilíbrio sobre as questões ambientais para o nosso desenvolvimento. Temos pouca área desmatada e por isso temos que verticalizar a produção. Se nós fizermos o nosso dever de casa no quesito ambiental, porque não ter uma recompensa por isso? Se temos um ativo ambiental extraordinário, porque o governo federal não olha para o Acre de maneira diferente?. Não temos calcário, não temos pedra, por isso temos que verticalizar a produção, porque se a gente não corrigir o solo não vamos aumentar a produção. Essa é uma bandeira que iremos travar aqui no Congresso Nacional.