Cruzeiro do Sul, AC, 23 de novembro de 2024 09:40

Brasil: o país das mulheres de ouro

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Torcer pelo Brasil nas Olimpíadas gera enormes expectativas na torcida brasileira. Gostamos de vencer e ficamos chateados com o segundo lugar. Parece que esquecemos que os nossos atletas de alto rendimento passam por todo um processo para chegar aos Jogos Olímpicos e, quando lá estão, enfrentam os melhores de centenas de países. Devemos lembrar que cada atleta e cada esporte possuem realidades e estruturas diversas.

Em termos de resultado geral, não tivemos a melhor olimpíada do Time Brasil, mas os esportistas que representaram o nosso país merecem aplausos por todo o empenho.

Podemos avaliar que um dos pontos positivos de Paris 2024 foi a força, tanto física quanto mental, das mulheres brasileiras. Quem desconfia dessa força levou um banho de água fria. Elas nos proporcionaram comemorar três ouros, quatro pratas e cinco bronzes, além do bronze da equipe mista de judô e a participação em 13 das 20 medalhas.

Historicamente (e até hoje) as mulheres buscam seus direitos e igualdade, e ainda sofrem com pessoas que tentam diminuí-las nas vitórias e apontam efusivamente erros nas derrotas. Não faço competição entre homens e mulheres, pois todos somos o Brasil. Mas, como o ponto alto dos Jogos são as medalhas, comemoro as conquistas dos medalhistas e torço para que no próximo mais atletas alcancem seus objetivos.

O percurso da maioria dos atletas é doloroso. Muitos passam por uma infância pobre e sem apoio para seguir no esporte, além de inúmeros obstáculos que precisam superar. É uma escolha difícil optar por continuar atleta.

É o caso da ginasta Rebeca Andrade, mulher e agora maior atleta do Brasil de todos os tempos nas Olimpíadas, com seis medalhas, sendo quatro em Paris, competição em que ganhou o segundo ouro olímpico brasileiro. Um exemplo de quem superou dificuldades pessoais enormes e nunca desistiu. Problemas também apareceram na carreira, tendo que passar por três cirurgias de reconstrução do ligamento cruzado anterior do joelho direito até ser vista hoje como uma gigante.

E as meninas companheiras da Ginástica Artística? Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, todas saíram com a medalha no peito e fizeram história com o bronze na modalidade por equipes.

Merece destaque também o feito da curitibana Bárbara Domingos, a Babi, que ensaiou seus primeiros passos na ginástica aos 5 anos, guiada pelo encantamento com a performance de Daiane dos Santos, medalhista internacional desde a década de 90 – daí a importância do exemplo positivo como fonte de inspiração! Em Paris, Babi foi a primeira brasileira a ser classificada para as finais de Ginástica Rítmica individual. Ficou em 10º lugar, o que não é pouco para uma atleta do Brasil, pois alcançou uma dimensão em que nenhuma outra brasileira havia pisado antes e agora é, simplesmente, uma das dez melhores do mundo na sua modalidade.

No Judô, muitas saudações para Beatriz (Bia) Souza pela medalha de ouro na categoria +78kg. No esporte que mais traz medalhas para o país, ainda tivemos um bronze para a Larissa Pimenta (até 52kg) e outro para a equipe mista, que contou com as judocas Bia Souza, Rafaela Silva e Ketleyn Quadros.

No Boxe Olímpico, a lutadora Beatriz Ferreira conquistou o bronze, sua segunda medalha olímpica, já que foi prata nos Jogos de Tóquio. A boxeadora fez história e ainda pode continuar como uma das favoritas na próxima edição.

A Seleção Brasileira de Futebol Feminino conseguiu driblar todas as críticas que recebeu antes das Olimpíadas e durante a primeira fase dos Jogos. No mata-mata, as brasileiras asseguraram a medalha de prata, após classificações diante das poderosas seleções francesa e espanhola.

Vale destacar também a surfista Tati Weston-Webb, que ampliou a onda de medalhas para o Brasil. A prata poderia ser inquestionavelmente o ouro. Único questionamento fica para os juízes da prova: o motivo das notas da brasileira serem tão diferentes entre eles.

O Vôlei feminino é um dos nossos maiores orgulhos, mas já passou por severas críticas nas quadras antes de ganhar o primeiro ouro em 2008. Agora, em 2024, ficamos com aquela sensação de que merecíamos chegar à final para ganhar o tri, mas estamos conscientes que elas merecem todas as homenagens pelo bronze olímpico.

Na areia veio o ouro com a Duda e a Ana Patrícia. Confirmaram o favoritismo e foram campeãs olímpicas em Paris. Vale destacar que venceram todos os jogos. Campanha espetacular e entrevista marcante da Ana Patrícia, ao afirmar que em 2021 recebeu muitos julgamentos de ódio, após problemas de saúde que prejudicaram seu desempenho e culminaram na sua eliminação em Tóquio.

Por fim, o que falar da skatista Rayssa Leal? O que você fazia aos 16 anos de idade? A Rayssa não só zerou como manobrou a vida. Ela ganhou medalha em duas olimpíadas consecutivas, sendo a primeira de prata com 13 anos e agora de bronze nas Olimpíadas Paris. A atleta do Skate Street é, desde nova, uma referência no esporte, principalmente para as crianças e os adolescentes.

Rainhas, lutadoras, talentosas, fortes, determinadas, equilibradas. Todas vencedoras.

 

*Felipe Hid é jornalista formado pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), do Rio de Janeiro, assessor de comunicação do governo do Acre, advogado inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil na Seccional Acre e vice-presidente da Comissão de Assuntos Legislativos da OAB/AC

Fonte agencia.ac.gov.br