‘Temos um herói morto e um bandido vivo’, diz Associação dos Delegados.
Antônio Carlos levou tiro de espingarda durante captura de suspeito.
Morreu, na noite desta quinta-feira (8), o delegado Antônio Carlos Marques de Melo, de 34 anos. O delegado estava há 25 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após ser baleado durante uma operação policial, no dia 14 de dezembro de 2014, para prender um homem suspeito de matar a filha da namorada, no município acreano de Xapuri, distante 188 quilômetros da capital Rio Branco.
Devido à gravidade dos ferimentos, o delegado já havia perdido um rim, o baço, parte do estômago e do intestino. De acordo com a Secretaria de Saúde do Acre, o delegado morreu às 19h05. O laudo médico apontando a causa da morte ainda não foi divulgado, mas o corpo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML).
No último boletim, divulgado pela Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), na quarta-feira (7), o estado do delegado havia evoluído para “gravíssimo instável”. Ele estava sendo mantido sedado e respirando com auxílio de aparelhos, além de ser submetido a hemodiálise e tratado com drogas vasoativas.
Procurado pelo G1, o presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Acre (Adepol), Rafael Pimentel, lamentou o ocorrido.
“Temos um herói morto e um bandido vivo, e isso causa revolta e consternação, diante dessa situação. Ele foi um guerreiro, todo dia para ele foi uma batalha, uma luta”, afirma.
Pimentel disse ainda que a classe está em luto. “Estamos enlutados, não temos qualquer palavra para expressar a tristeza da nossa classe e da família é uma dor irreparável”, lamentou.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Acre, o corpo do delegado será velado na sede da Secretaria de Polícia Civil, na Avenida Antônio da Rocha Viana em Rio Branco, até às 10h30 desta sexta-feira (9). Em seguida o corpo será transladado para Niterói (RJ) onde será enterrado.
Entenda o caso
O delegado Antônio Carlos Marques Melo, titular da delegacia da cidade de Xapuri, distante 188 quilômetros de Rio Branco, foi alvejado com dois tiros durante uma operação para prender Elivan Verus da Silva, de 32 anos, no dia 14 de dezembro. O rapaz é acusado de matar a facadas, a adolescente Janaína Nunes da Costa, de 15 anos, no dia 26 de novembro de 2014, filha da namorada dele.
Após o delegado ser ferido, as polícias se uniram e conseguiram prender o acusado em uma operação, no dia 15 de dezembro, na zona rural de Xapuri. Na mesma noite, o suspeito foi encaminhado para o Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb), após trocar tiros com a polícia e ficar ferido na perna e abdômen. Ele recebeu alta ainda no dia 16 de dezembro e foi levado ao presídio.
Depois de um período sendo mantido em coma induzido, os médicos chegaram a suspender os sedativos, no dia 18 de dezembro, segundo informou, na época, o diretor do Huerb, Giovanni Casseb. O delegado foi transferido para a UTI do Hospital das Clínicas antes do Natal.
De acordo com a mãe do delegado, Maria de Jesus, ele estava melhorando e a família já pensava em transferí-lo para São Paulo, onde ele poderia continuar o tratamento. No domingo (7), ele chegou a chorar ao ouvir a voz na mãe.
‘A gente não acreditou’
O delegado nasceu em Belém, porém viveu quase toda a vida no Rio de Janeiro. Há cerca de três anos e sete meses mudou-se para o Acre, onde se tornou delegado titular da delegacia do município acreano de Xapuri.
Em entrevista ao G1, publicada na quarta-feira (7), a mãe dele, Maria de Jesus, de 62 anos, contou que desde pequeno, Antônio Carlos sonhava em ingressar na Polícia Civil. “Desde pequenininho ele sempre quis ser delegado. Aos 23 anos, se formou em direito, passou na OAB e começou a estudar para isso”, afirma.
Na mesma ocasião ele disse que a notícia que ele havia sido baleado pegou todos de surpresa. “A gente não acreditou, porque achávamos que o único lugar onde não aconteceria nada com ele seria aqui [no Acre], mas aconteceu”, conta.
Após 25 dias de luta, a mãe diz que o sentimento é inexplicável. “Não tem como explicar o que estou sentindo, tem que passar para saber, mas não quero que ninguém passe nunca por isso. Porque é muito difícil”, desabafou.