Símbolo de luta pela liberdade do trabalhador rural acreano, a Reserva Extrativista Chico Mendes segue sua história como abrigo do desenvolvimento sustentável. Com mais de 814 famílias em seu território no município de Xapuri, a unidade vive o grande dilema de conservar e produzir.
Com apoio do governo do Estado, seus membros estão mostrando que esse código binário é possível, e ainda conseguem desenvolver o mais importante para si: qualidade de vida. Nesta segunda e terça-feira, ocorre em Rio Branco Seminário de Avaliação de Resultados do Programa REDD Early Movers (REM) no Acre.
Por meio desse programa, o governo investiu mais de R$ 100 milhões e ultrapassou suas metas de beneficiários, com ações de apoio ao extrativismo, produção familiar, cultura indígena e pecuária diversificada e sustentável. O encontro de avaliação do REM, programa que age para o desenvolvimento sustentável do Acre, mostrará exemplos como os de dois xarás Tião, moradores da Resex. O REM é executado pelo Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais (IMC), em parcerias com diversos outros órgãos do Estado.
Sebastião Pereira, conhecido como Tião do Moisés, e o Sebastião (Tião) de Aquino foram beneficiados com açudes para criação de peixes, entre outras ações de Estado. Junto de suas atividades tradicionais e de vocação, a piscicultura tem ajudado na renda das famílias.
A memória do líder seringueiro Chico Mendes alimenta o povo de sua terra de vários jeitos. Seja contido nas políticas públicas que o governo implementa, seja nas atitudes dos moradores das florestas pela qual lutou junto dos companheiros.
Tião do Moisés está com sua família há 38 anos na comunidade Rio Branco, dentro da Resex. Quando participava dos empates (luta seringueira contra desmatamento e ocupação de terras) era bem jovem. “Era uma época triste, estávamos sendo expulsos das terras. Quando o pessoal se mobilizava e meu pai ia para os empates, minha mãe chorava, via a hora a gente ser morto pelos caras nas tocaias”, conta.
Além da grande insegurança, havia ainda a desvalorização do que era tirado da floresta. “Nossos produtos não tinham valor algum, porque eram vendidos para o patrão, pro marreteiro. Uma hora compravam, outra hora não. Era uma liberdade muito pouca, não tínhamos essa qualidade de vida que temos hoje”, relata Tião, que hoje luta pelos seringueiros de outra forma, como presidente da Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri (Amoprex).
A qualidade de vida relatada começou a surgir nos últimos 20 anos, quando o governo do Estado começou a valorizar e investir na produção sustentável, parte da cultura extrativista acreana. Resultado disso, é que Tião começou a investir em vários cursos e treinamentos para aperfeiçoar o que mais gostaria de fazer, cultivar o que é da mata.
Com o conhecimento adquirido, começou a desenvolver o Sistema Agro Florestal (SAF), que cria um consórcio de várias espécies de árvores, madeireira, de óleos e frutíferas. “Essa foi a forma mais correta de ter um modelo com sombrio e sustentável, valorizado economicamente. Isso fez eu me apaixonar e fazer esse sistema”, explica.
Esse ambiente se tornou habitat ideal para sua próxima paixão, a criação de abelhas sem ferrão. “Coloquei a primeira caixa de abelhas em 2010. Vendi o primeiro litro de mel por 25 reais e comecei a ficar animado. Pensei que esse negócio tinha sentido”, relata o produtor.
Hoje, a meliponicultura uma de suas principais atividades, rende, por exemplo, uma renda de R$5.500 em 2016. Renda essa que passou a ser complementada com o tanque para criação de peixes que recebeu do Estado.
Quem explica mais sobre a importância dessa nova atividade para os seringueiros é Tião Aquino. Além de contribuir com o trabalho administrativo da principal organização extrativista do estado, a Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre), ele também trabalha com a extração de látex e com a piscicultura.
“A primeira importância dos açudes construídos, para a gente que mora dentro da floresta, é a segurança alimentar. Nem todos os locais temos água e peixes abundantes para a pesca. Em segundo lugar, é que você transforma o excedente em renda”, fala Aquino sobre a criação de peixes.
Sendo um dos beneficiários com a construção de açude, Aquino já vê esses dois resultados em sua propriedade. “Posso afirmar, que só nesse tanque, estou tendo de renda oito mil reais por ano”, afirma. Essa realidade foi ampliada para 54 outras famílias dentro da Resex em Xapuri.
Com suas ações de valorização da riqueza intangível das florestas acreanas, o governo tem mostrado que uma nova economia, aliando preservação e desenvolvimento, é possível. Reafirmando os ideais daqueles que lutaram com suas vidas por uma natureza preservada e por respeito aos trabalhadores, o Acre desenvolve há quase duas décadas o desenvolvimento socioeconômico sustentável.
Aquino, enquanto fala sobre a importância do subsídio econômico pago pelo Estado aos seringueiros pelo látex extraído, aproveita para dar uma boa notícia. Essa floresta preservada, deu em seus primeiros meses de safra da extração do látex, 30 toneladas. “Nossa meta é que consigamos 500 toneladas este ano. Temos a fábrica de GEB [Granulado Escuro Brasileiro] em Sena Madureira para alimentar”, continua.
Com um ar puro, renda garantida e um futuro pela frente, o Tião do Moisés conclama: “Moro aqui porque gosto, porque amo a floresta. Hoje, tudo que eu tenho vem dela. Foi onde eu me eduquei e aprendi a respeitar as pessoas, com meu pai. Gosto também porque é onde tem vidas, não só da matas mas como dos animais e todos seus seres. Floresta é tudo!”.
Por Arison Jardim
Fonte agencia.ac.gov.br