Por Aline Querolaine
Em alguns momentos, quando me questionam sobre o exercício da escrita, respondo: seja um professor de escola pública do ensino básico. Eu sei que nem todo mundo que quer escrever tem talento para o magistério, mas seria bom. Uma sala de aula com crianças e pré-adolescentes lhe prepara não somente para a literatura, mas também para a vida. Experimente passar duas horas por dia dando aula para um sexto ano. Sua visão de como mediar e resolver conflitos e enredos vai mudar radicalmente. Acredite.
Lecionar lhe ensina a não guardar mágoas, porque um professor tem tudo para ser um ressentido, mas não é. Um professor aprende a perdoar aquelas situações mais irritantes: perdoa quando é interrompido cinco vezes por conversas paralelas no meio da explicação. Perdoa quando ainda na mesma explicação sobre redação alguém levanta a mão e faz uma pergunta aleatória: “professora, quantos anos a senhora tem?”
Perdoa quando você está no seu melhor momento explicando Concordância Verbal e um aluno levanta a mão efusivamente e você acha que ele fará um comentário ou tratará de uma questão que os levará a um patamar mais profundo da discussão, mas não. Era só para perguntar se pode ir ao banheiro mesmo.
Sim, os professores são duros na queda porque eles perdoam aquela volta do recreio, com os alunos suados e agitados e aquele jeito de “ninguém está interessado na sua aula sobre tempos verbais, professora”. Perdoa quando os alunos querem tirar dúvidas sobre o conteúdo no meio de uma avaliação, mesmo que você tenha feito 438 revisões antes da prova, mas ninguém estava prestando atenção.
Os professores perdoam porque os alunos também sabem perdoar nossas falhas. E há momentos bonitos quando os alunos acreditam no que estamos dizendo, mesmo quando não estamos bem. E essa é a mágica da educação: quando os conhecimentos entre vocês se conciliam. Quando vocês se percebem.
Portanto, durante minha experiência como professora há alguns anos, digo-lhes: não se enganem, alunos são especialistas em professores. Eles estão lá todos os dias, lhe observando. E reconhecem quando um professor é bom. Reconhecem, do jeito deles, mas reconhecem. A sala de aula é literatura.
Aline Querolaine é jornalista, especialista em Braille e Literatura infantil, é mestra em ensino de linguagens.
Fonte agencia.ac.gov.br